Claro que não estamos falando das moedas enormes com quilos de ouro e que são comemorativas geralmente de países que compõem o Reino Unido. Estamos falando da maior moeda circulante.
O dobrão de 20.000 réis foi uma moeda de ouro cunhada no Brasil pela Casa da Moeda de Vila Rica (Minas Gerais) entre 1724 e 1727 durante o reinado de Dom João V enquanto o brasil era colônia de Portugal, possuía o diâmetro de 37 milímetros e pesava 53,78 gramas (comumente arredondado para 53,80 gramas).
Essa moeda incrível, considerada a maior moeda de valor intrínseco (valor do metal) já tendo circulado no mundo, carregava no cunho de anverso o valor de 20.000 réis, embora seu valor real pudesse chegar a 24.000 réis, um quarto do preço equivalente a uma escrava jovem, e circulou principalmente em Portugal e Inglaterra.
Veja um breve vídeo (7 segundos) desta moeda de ouro de 20000 réis de 1725 conhecida como dobrão de ouro brasileiro - Moeda do acervo Mariana Campos.
Anverso da moeda
Circundando a moeda, a legenda IOANNES•V•D•G•PORT•ET•ALG•REX (que significa "João V, pela graça de Deus, Rei de Portugal e Algarves".
Ao centro, o escudo português e a coroa, ladeados pelo valor 20.000 à esquerda e 5 florões à direita.
Reverso da moeda
Circundando a moeda, a legenda IN•HOC•SIGNO•VINCES (que significa "Com esse sinal vencerás".
Ao centro, a cruz da Ordem de Cristo ladeada por 4 letras monetárias MMMM e data no exergo superior.
Informações técnicas:
20 mil réis (dobrão de ouro)
Valor facial 20.000 réis (R 20$000) / 1 dobrão
Material Ouro (Au 916 2/3)
Peso (g) 53,784 gramas
Peso (oitavas) 15 oitavas (1 oitava = 3,5856g)
Diâmetro 37,0 milímetros
Bordo Serrilhado (flor de liz)
Orientação Moeda ↑↓ (EH)
Emissor Casa da Moeda de Vila Rica (Minas Gerais)
Emissões/Tiragem: 20 mil réis (dobrão de ouro)
Ano de cunhagem e quantidade de acordo com os catálogos Amato, Vieira, Bentes, Prober e Krause:
1724 Desconhecida O.248 O-89 98.01 O-187 KM# 117 (página 135)
1725 Desconhecida O.249 O-90 98.02 O-197 KM# 117 (página 135)
1726 Desconhecida O.250 O-91 98.03 O-209 KM# 117 (página 135)
1727 Desconhecida O.251 O-92 98.04 O-219 KM# 117 (página 135)
Trazia na legenda as palavras latinas "In Hoc Signo Vinces" (Com este sinal vencerás) derivada da tradição cristã, segundo a qual o Imperador Constantino, primeiro César a se converter ao cristianismo, teria ganho uma batalha contra seu rival Maxêncio após gravar um sinal cristão nos escudos de todos os seus soldados.
Mas o primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques, em 1128 teve uma visão semelhante antes da batalha de Ourique, batalha essa que travou contra 5 reis mouros e na qual saiu vencedor, vitória essa que está gravada no escudo de Portugal e que posteriormente passaria também o lema "In hoc signes vinces" a constar durante séculos nas moedas portuguesas.
Casa da Moeda de Vila Rica
Estabelecida em Vila Rica, a Casa da Moeda de Minas Gerais funcionou por 10 anos, de 1724 a 1734. Sua criação foi ordenada em 1720, quando a circulação do ouro em pó como meio circulante foi proibida.
Na primeira metade do século XVIII, a alta taxa de extração de ouro no Brasil deu às três Casas da Moeda existentes, a oportunidade de trabalharem juntas, fabricando uma grande quantidade de moedas de grande valor e de extrema beleza, mostrando ao mundo a opulência do reinado de D. João V (1706 - 1750).
Cunhadas no Rio de Janeiro e na Bahia, no início eram idênticas às fabricadas na Metrópole: moeda (4.000 réis), 1/2 moeda (2.000 réis) e 1/4 de moeda ou quartinho (1.000 réis).
Apesar de terem o mesmo valor facial daquelas destinadas às Províncias, eram de peso superior, fazendo com que circulassem valendo 20% a mais que o seu valor facial.
Além das moedas antes mencionada, a nova Casa da Moeda também cunhou 10$000 e 20$000 réis, que circulavam valendo 12$000 e 24$000 réis, respectivamente.
D. João V
D. João V nasceu em Lisboa no dia 22 de outubro de 1689 e faleceu na mesma cidade em 31 de julho de 1750, foi apelidado de "o Magnânimo" e foi Rei de Portugal e Algarves de 1706 até sua morte.
Dom João V por Jean Ranc em 1729
O Rei D. João V não se envolvia muito nas guerras, a não ser a Guerra da Sucessão Espanhola que herdou do seu pai e em que foi rapidamente derrotado.
Em vez disso, concentrou-se nas relações internacionais e europeias, promovendo o crescimento de Portugal, tornando o país em uma reconhecida terra de prosperidade.
Um dos acontecimentos que marcaria o reinado de D. João V foi a descoberta de ouro numa remota região do interior do Brasil, em meados da década de 1690, quando ele era ainda Príncipe do Brasil. O ouro mineiro começou a chegar a Portugal ainda no final dessa década.
Carruagem de ouro Coche dos Oceanos
O Coche dos Oceanos, da embaixada do Marquês de Fontes a Roma. Dois Velhos – o Atlântico e o Índico – dão as mãos, com um globo como fundo, simbolizando a ligação por mar entre dois mundos com a passagem do Cabo da Boa Esperança e Portugal como potência marítima. À direita o Coche da Coroa, do embaixador em Paris 1715-1722. À esquerda o coche de D. João V; no Museu Nacional dos Coches.
Em 1697, o embaixador francês Rouillé mencionou a chegada de ouro "peruano", citando 115,2 kg. Dois anos depois, em 1699, teriam chegado 725 kg de ouro a Lisboa; em 1701, a quantidade terá já aumentado para 1775 kg.
A economia da colônia entrava no chamado ciclo do ouro e a exploração do ouro motivaria, logo no início do seu reinado, os conflitos de 1707-1709 na região das minas, conhecidos como a Guerra dos Emboabas.
Desde então, a quantidade de ouro minerado no Brasil continuou a aumentar durante a primeira metade do reinado, para se estabilizar na sua última década.
Apenas no reinado seguinte começou a produção aurífera a declinar, o que, juntamente com o terremoto de 1755, foi desastroso para Portugal.
Mas durante a vida de D. João V, não se adivinhavam problemas futuros: em certos anos chegaram mais de vinte toneladas de ouro a Lisboa; em valores médios, durante todos os anos do seu longo reinado entravam em Portugal mais de oito toneladas de ouro do Brasil.
Na década de 1720 foram ainda encontrados diamantes em grandes quantidades, na região da vila colonial hoje chamada Diamantina.
As moedas de D. João V
Nas casas da moeda de Lisboa, Porto, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Moçambique, Goa, Damão e Diu, o monarca ordenou que fossem cunhadas as suas novas moedas.
Estas incluíam o Dobrão, o 1/2 Dobrão, a Moeda, a 1/2 Moeda, o Quartinho, o Cruzado Novo, a Dobra, a Peça, a 1/2 Peça, o Escudo, o 1/2 Escudo e o Cruzadinho.
Foi também neste período que foi cunhada a Dobra de 24 Escudos, a maior moeda cunhada em Portugal e uma das maiores do mundo.
O Rei D. João V conseguiu criar toda esta opulência com o ouro e os diamantes que naquela época chegavam regularmente a Lisboa vindos do Brasil.
Fonte: Collectprime e Mariana Campos