Moedas
em formato de espada, escavadas no local de uma antiga fundição de bronze na
província chinesa de Henan, são as moedas metálicas chinesas mais antigas conhecidas
e possivelmente as primeiras do mundo.
Ao
escavar ruínas em Guanzhuang — antiga cidade na província oriental de Henan, na
China — arqueólogos descobriram o que acreditam ser a mais antiga casa da moeda
conhecida, onde moedas de bronze em formato de pá em tamanho miniatura foram
produzidas em massa há cerca de 2,6 mil anos. A pesquisa publicada em 2021 no
periódico Antiquity reforça a tese de que as primeiras moedas foram cunhadas
não na Turquia ou na Grécia, como acreditavam historiadores e numismatas, mas
na China.
A
cidade murada e com fossos de Guanzhuang surgiu por volta de 800 a.C, e sua
fundição — onde o bronze era fundido e moldado por golpes para produzir vasos
ritualísticos, armas e ferramentas — foi inaugurada em 770 a.C., segundo Hao
Zhao, arqueólogo da Universidade de Zhengzhou e autor principal do artigo. Mas
foi somente 150 anos mais tarde que seus operários passaram a cunhar moedas
perto do portão sul do centro da cidade.
Arqueólogos
escavavam o sítio arqueológico de Guanzhuang desde 2011, tendo encontrado
oficinas e centenas de poços usados para depositar resíduos de fundição. Os
operários começaram a cunhar moedas de espadas nesse local entre 640 a.C. e 550
a.C.
Usando
datação por radiocarbono, a equipe determinou que a casa da moeda começou a
operar em algum momento entre 640 a.C. e 550 a.C. no máximo. Embora moedas do
Império Lídio na região atual da Turquia tenham sido datadas de 630 a.C. por
outras pesquisas, Zhao observa que a primeira fábrica de moedas conhecida por
ter produzido moedas de Lídia é datada entre 575 a.C. e 550 a.C. A casa da
moeda de Guanzhuang, segundo Zhao, “é atualmente o mais antigo local de
cunhagem do mundo com datação determinada”.
Durante
as escavações, os pesquisadores encontraram duas moedas de espadas —
semelhantes a ferramentas de jardinagem em miniatura — e dezenas de moldes de
argila empregados em sua fundição. Uma moeda havia sido conservada em condições
quase perfeitas: com cerca de 15 centímetros de comprimento e pouco mais de 6
centímetros de largura, a moeda de bronze pesava cerca de 27 gramas, ou menos
do que seis folhas de papel de tamanho padrão.
EVIDÊNCIAS
CONVINCENTES, MAS NÃO PROVAS -
As moedas geralmente são encontradas “agrupadas e sem nenhum contexto original
de sua produção ou uso”, afirma Bill Maurer, professor de antropologia da
Universidade da Califórnia em Irvine e diretor do Instituto de Dinheiro,
Tecnologia e Inclusão Financeira. “Mas, neste caso, foi encontrada uma fundição
inteira, além dos moldes utilizados.”
É
notável quantos elementos foram conservados, conta Maurer, que não participou
da pesquisa. Encontrar tanto as moedas quanto seus moldes foi o que permitiu
aos pesquisadores datar a fábrica de moedas por radiocarbono, reforçando a
hipótese de que seja a mais antiga conhecida no mundo.
Moedas
normalmente são descobertas soltas ou longe de onde foram produzidas, guardadas
nas estruturas de uma residência ou enterradas, explica Maurer, “completamente
isoladas de qualquer espécie de contexto que possa ser associado
definitivamente com as moedas em si.”
Quando
são encontradas evidências de danos causados pelo fogo em moedas assim, os pesquisadores
podem datá-las por radiocarbono, porém nunca saberão ao certo “se essa queima
esteve relacionada ao período de circulação da moeda”, explica Maurer, ou se,
ao contrário, as moedas foram queimadas em um incêndio casual.
Contudo,
neste caso, “há uma fundição repleta de resíduos de carbono associados à
produção do próprio objeto”, prossegue Maurer, o que pode provar a idade das
moedas e da casa da moeda.
George
Selgin, diretor do Centro de Alternativas Monetárias e Financeiras do Instituto
Cato, afirma que, embora a descoberta seja impressionante, “não muda o consenso
básico sobre a época do advento das moedas. E não significa necessariamente que
a China tenha sido a primeira a produzi-las”.
Isso
porque, embora essa pesquisa comprove a idade dessa fábrica de moedas chinesa
específica e de suas moedas, não conclui definitivamente que os resíduos
chineses sejam anteriores às moedas de Lídia, “geralmente citadas como a origem
alternativa da cunhagem”, afirma Selgin, que também não participou da pesquisa.
COMÉRCIO
OU IMPOSTOS? - Zhao e
sua equipe especulam que a localização da casa da moeda — perto da suposta sede
administrativa oficial da cidade — poderia indicar que “as atividades de
cunhagem fossem ao menos reconhecidas pelo governo local”. Mas acrescentam que
ainda não podem ser tiradas conclusões: “a participação política na produção de
moedas de espada continua tornando mais complexas pesquisas futuras”,
escreveram eles.
Existem
duas teorias preponderantes sobre a origem do dinheiro: que foi criado para o
comércio entre mercadores e clientes, ou para que governos pudessem cobrar
impostos e dívidas.
Maurer afirma que, embora a descoberta não prove nada, “a produção rotineira, padronizada e em massa desses objetos associados a um centro político de produção reforça a hipótese formulada há muito por antropólogos e arqueólogos: a de que o dinheiro surgiu principalmente como ferramenta tecnológica política e não econômica”.
Fonte: National Geographic / Texto original: Jillian Kramer / Fotos: Hao Zhao