Desde as últimas notas impressas para o padrão cruzeiro em 1984 e 1985 (como vimos em nosso artigo anterior), passamos por outros padrões como; o cruzado (1986-1989), cruzado novo (1989-1990) até chegarmos novamente à reutilização da nomenclatura cruzeiro para o meio circulante nacional. O ano é 1990, e a aprovação do novo sistema ocorreu via medida provisória nº168, editada em 16 de março de 1990. Como consta no título de nossos artigos anteriores, o cruzeiro foi um padrão de idas e vindas, desta vez, permanecendo até 1993, mas precisamos contextualizar para compreender. Iremos recorrer aos anais da história para remontar este período e consequentemente alcançarmos a gênese do retorno desse padrão monetário.
O ano de 1990 foi emblemático para a história do Brasil e consequentemente para o padrão cruzeiro, pois era eleito pelo voto direto o primeiro presidente da República desde o fim do governo militar. Fernando Collor de Mello, assumia o comando da nação no dia 15 de março de 1990, e recebia o país em plena escalada hiperinflacionária. Na segunda metade da década de 80 a taxa de inflação acumulada superou 1.000.000%. No dia seguinte a posse, Collor editou uma série de medidas provisórias – atos do Poder Executivo que necessitavam da aprovação do poder legislativo – as medidas visavam em tese o saneamento e o fortalecimento da economia, além de modernizar o país e moralizar a administração pública. Claro que nada disso deu certo e no máximo tivemos um momento onde o processo de importação da indústria automotiva parece ter sido um dos poucos setores que aproveitaram a abertura econômica para o exterior e a redução das alíquotas de importação.
Um outro passo importante do governo eleito foi a reintrodução do cruzeiro como nova moeda. A medida fazia parte de um plano chamado de “Plano de Estabilização Econômica do Novo Governo” ou simplesmente “Plano Brasil Novo”, mas que posteriormente ficou conhecido e divulgado pela imprensa como o terrível “Plano Collor”. Devemos relembrar que o Plano Collor tentou sem sucesso tomar decisões para combater a inflação e o déficit público, tentou também sem muito sucesso a extinção de ministérios e empresas estatais. Ficou muito marcado pela demissão de funcionários públicos e o congelamento de preços e salários. Talvez, a pior medida de todas tenha sido o bloqueio dos saldos em conta corrente e aplicações financeiras acima de 50 mil cruzeiros, medida que inicialmente teria duração de 18 meses, mas foi desastrosa e se arrastou por anos com várias ações julgadas na tentativa da população em recuperar os valores bloqueados pelo Plano Collor.
O momento de crise financeira era liderado pela Ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, esta, não conseguia fazer o país reagir e logo caiu em descredito no meio político e econômico. Para o lugar da ministra foi escolhido o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Marcílio Marques Moreira, este, seria o novo Ministro da Fazenda.
A atuação do novo ministro teria que ser diferente ao ponto de acertar onde sua antecessora errou, inicialmente se destacando pelo cancelamento dos novos congelamentos de preços, mas patinando com a manutenção das altas taxas de juros, novamente acertando ao conter a emissão monetária (grande causadora da hiperinflação dos anos 80) e promovendo a abertura do mercado de capitais aos investidores estrangeiros. Ao sentir que de fato estava conseguindo alguns bons resultados o novo ministro reformulou a política industrial brasileira ao reduzir alíquotas de importação e modernizar o parque industrial. Em meados de 1992 o Brasil conseguia reduzir a inflação estabilizando em 20% mensais, mas o desemprego não recuava, foi sob esse cenário que eclodiu a grave crise política que culminou no impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em sessão da Câmara dos Deputados, em 29 de setembro de 1992. Acusado de crime de responsabilidade por ligações em esquemas de corrupção, liderado por seu tesoureiro de campanha Paulo César Farias – famoso “PC Farias” – Collor não permitiu que o processo de impedimento fosse levado até o fim, renunciando ao mandato no dia 29 de dezembro de 1992, pouco antes da conclusão do processo no Senado Federal. Em seu lugar assumiria Itamar Franco, mas essa história ficará para o nosso próximo artigo.
Vocês perceberam ao longo do texto que a história reservou ao padrão cruzeiro alguns momentos icônicos do nosso país, sendo eles bons ou ruins estamos contando os fatos, pois devemos conhecer a nossa história com mais profundidade.
O cruzeiro de 1990 ficou marcado pela fracassada política econômica nacional e também por carimbar e reaproveitar notas do cruzado novo para abastecer o meio circulante. Podemos observar as notas de 50 cruzeiros (Carlos Drummond de Andrade), 100 cruzeiros (Cecília Meireles), 200 cruzeiros (Centenário da República) e 500 cruzeiros (Augusto Ruschi).
50 cruzeiros (Carimbada) - Carlos Drummond de Andrade – Circulada de 15-04-1990 a 30-09-1992
100 cruzeiros (Carimbada) – Cecília Meireles – Circulada de 15-04-1990 a 30-09-1992
200 cruzeiros (Carimbada) – Centenário da República – Circulada de 15-04-1990 a 15-09-1994
500 cruzeiros (Carimbada) – Augusto Ruschi – Circulada de 15-04-1990 a 15-09-1994
O padrão só ganharia notas próprias em 9 de abril de 1990, quando lançada a cédula considerada emergencial e sob o valor facial de 5.000 cruzeiros, Estampa B, fabricada antes mesmo do lançamento da Estampa “A”. A nota foi impressa com características técnicas simplificadas, tal simplificação se deu com o objetivo de atender às necessidades urgentes da economia, logo após a edição do plano de estabilização econômica. A nota apresenta em seu anverso a efígie simbólica da República e o no reverso as Armas da República. E ao contrário do que muitos pensam sobre a nota, não se trata de uma nota comemorativa, mas uma cédula emergencial brasileira.
5.000 MIL cruzeiros – República (Nota Emergencial) – Circulada de 09-04-1990 a 15-09-1994
Destacaremos abaixo a série completa em notas do padrão cruzeiro circuladas entre 1990-1993.
100 cruzeiros – Cecília Meireles – Circulada de 3-12-1990 a 30-09-1992
200 cruzeiros – Centenário da República – Circulada de 03-12-1990 a 15-09-1994
500 cruzeiros – Augusto Ruschi – Circulada de 03-12-1990 a 15-09-1994
1.000 cruzeiros – Cândido Rondon – Circulada de 31-05-1990 a 15-09-1994
5.000 MIL cruzeiros – Estampa “A” – Carlos Gomes – Circulada de 11-06-1990 a 15-09-1994
10.000 MIL cruzeiros – Vital Brasil – Circulada de 26-04-1991 a 15-09-1994
50.000 MIL cruzeiros – Luís da Câmara Cascudo – Circulada de 09-12-1991 a 15-09-1994
100.000 MIL cruzeiros – Proteção do Meio Ambiente (alegoria base para a produção da nota de um real “beija-flor”) – Circulada de 24-07-1992 a 15-09-1994
500.000 MIL cruzeiros – Mário de Andrade – Circulada de 29-01-1993 a 15-09-1994
Chegamos ao fim de mais um capítulo dessa curiosa história que remonta a era dos cruzeiros em diferentes períodos. Em breve nos veremos no que será a
última parte desta série de artigos. Não perca!
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