Para entendermos nosso artigo precisamos saber que a entoação vocal é considerada pelos musicólogos como a imagem da alma e mudanças na frequência do tom, determinantes das inflexões e das nuances sucessivas da voz, e refletidas também na consciência, não como mudanças de frequência ou de tensão, mas sob a forma de um movimento espacial - o tom sobe quando a vibração das cordas vocais se acelera; o tom desce quando a vibração diminui. Este tipo de relação bem estabelecida entre a frequência de vibrações e o movimento espacial, permite reduzir os gestos manuais, mas não se aplica aos corporais mesmo que estes estejam em dimensões modestas e completamente ocultas.
Ao percebermos a ocultação dos gestos corporais durante a prática do canto entramos justamente no objeto de nosso artigo. Mas o que teria haver a voz, os movimentos corporais e as moedas?
Precisaremos voltar ao período da música renascentista, este refere-se à música europeia escrita durante a Renascença, o período que abrangeu, aproximadamente, os anos de 1400 a 1600. A definição do início do período renascentista é complexa e nesta faixa temporal teriam sido desenvolvidas novas técnicas de canto. Muitos musicólogos não veem grandes mudanças no pensamento musical do século XV, mas não podem fechar questão em torno do desenvolvimento de novas técnicas vocais utilizadas no período.
A música renascentista evoluiu a partir das bases da música medieval, e ao longo do período não se observam bruscas quebras de continuidade, mas sim uma prolongada e gradual transição de um predomínio absoluto da linha melódica horizontal, de ritmos livres e desenvolvida sobre os modelos do canto gregoriano, em direção a novos parâmetros, marcados pela concepção da música em sucessivos acordes verticais encaixados dentro de compassos de ritmos invariáveis. Apesar de gradual, ao final do processo a mudança resultante é muito profunda. Assim, é impossível definir a música desta fase da história como um estilo unificado. A música sacra ainda é a mais prestigiada e geradora de várias técnicas impressionantes para que ao longo do tempo o poder vocal vertical fosse ainda mais utilizado alcançando tons cada vez mais altos e sustentando notas mais alongadas. Assim chegamos ao fato curioso que envolve a música e as moedas, algumas pessoas colocavam uma moeda por entre as nádegas ao tentarem alcançar uma nota mais aguda e verticalizada. Ao forçar sua capacidade vocal a moeda deveria permanecer alojada no local sendo contraída por entre as nádegas sem que estas a deixassem cair. Certamente uma forma curiosa para desenvolver juntamente com a respiração a capacidade de alcançar notas mais verticais.
Veja algumas moedas
que podem ter sido utilizadas para o desenvolvimento da técnica e circuladas em
Portugal durante parte do período renascentista.