O NASCIMENTO E MORTE DO TOSTÃO - Veja como foi a trajetória do tostão em Portugal

Portugal - Monarquia - D. Afonso VI (1656-1667) - Tostão (100 Reis) - Lisboa - Prata


O tostão foi introduzido no séc. XVI por D. Manuel I, circulando por mais de 500 anos. Originalmente era uma bela moeda de prata, mas sua história chegaria ao fim em terras brasileiras em 1942, em Portugal o tostão teve sua morte oficialmente decretada algum tempo depois, 1979. Encerrando sua história como uma minúscula moeda de alumínio. Sofreu e virou motivo de gozação, não eram poucas as piadinhas envolvendo a moedinha:

- “Marcelino” em referência a Marcelo Caetano, então Primeiro-ministro do Estado Novo (destituído pelo golpe militar de 25 de Abril de 1974);

- Era chamada de “moeda flutuante” pois, posto cuidadosamente à superfície de um copo de água, flutuava suspenso apenas pela tensão superficial da água;

- Na época colocava-se um punhado de “marcelinos” na palma da mão, dava-se um sopro e o número de moedas que ficassem na palma da mão, era igual ao número de anos que Marcelo Caetano permaneceria no governo.
Tostão Marcelinho


HISTÓRIA – Ao final do século XV havia falta de metais preciosos na Europa. A moeda é por isso cunhada sobretudo em uma liga chamada bolhão (liga de baixo teor de prata) e de baixa espessura a fim de aumentar a duração dos cunhos (algo muito comum em moedas medievais).

O tostão avança e evolui,  em 1474, é pela primeira vez cunhada no Ducado de Milão sendo desta vez uma bela moeda, com maior teor de prata, módulo e espessura mais robusta, além de apresentar a cabeça do governante sem qualquer coroa, ou seja, de “testa nua”, assim, as moedas foram apelidadas pelos italianos de TESTONES e posteriormente, TOSTÕES.

O seu sucesso foi tão expressivo que a moeda acabou sendo copiada por outros ducados e logo depois por outros estados europeus. Na França Luís XII emite em 1513 o “Teston de dez soldos”, na Inglaterra, Henrique VIII cunha em 1504 o “Xelim de doze pence”, inicialmente denominado Testoon ou teston.

O NASCIMENTO EM PORTUGAL – Era o reinado de D. Manuel I. E o sistema monetário vigente era considerado por muitos obsoleto, uma vez que era baseado no REAL BRANCO, (um sistema confuso em que o valor da moeda era fixado por decreto real). Em 1504 D. Manuel I decide reformular o sistema monetário com base no sistema decimal e com uma nova unidade monetária chamada Real. Em negociações o Cruzado se tornou a moeda utilizada nas grandes transações comerciais, enquanto nas pequenas transações era utilizado o Vintém (20 Reais).

Ao sabermos como se deu a chegada do tostão em terras portuguesas, seguiremos agora com os tipos de tostões cunhados ao longo da história de Portugal, por cada rei:

TOSTÕES DE D. MANUEL - Moeda em prata de 916,6‰ com 28 mm de diâmetro e um peso de 9,3 a 10 gramas. Na frente quase todas apresentavam uma marquilha, V, significando cinco vinténs. No verso apresentavam a Cruz de Cristo e, pela primeira vez, a legenda *IN*HOC*SIGNO*VINCES. Foram cunhados em Lisboa e no Porto, com 67 tipos diferentes.

TOSTÕES DE D. JOÃO III - Moeda em prata de 916,6‰ com 30 mm de diâmetro e um peso de 9,3 a 10 gramas. Na frente quase todas apresentavam uma marquilha, V, significando cinco vinténs. Inicialmente ostentavam a Cruz de Cristo mas, pela Lei de 10 de Julho de 1555, passaram a ostentar a Cruz de Avis. Ambos foram cunhados em Lisboa e no Porto e há mais de 100 tipos conhecidos.

TOSTÕES DE D. SEBASTIÃO - Moeda em prata de 916,6‰ com 30 mm de diâmetro e peso de 8,8 gramas. Sem marquilha. Inicialmente apresentam a Cruz de Avis mas, pela Lei de 22 de Abril de 1570 voltam a ostentar a Cruz de Cristo. Ambos cunhados em Lisboa e no Porto e com cerca de 60 tipos conhecidos.

TOSTÕES DE D. HENRIQUE - Moeda em prata de 916,6‰ com 30 mm de diâmetro e 8,65 gramas de prata. Sem marquilha. Conhecem-se dois tipos, ambos cunhados em Lisboa.

TOSTÕES DOS GOVERNADORES DO REINO - Moeda em prata de 916,6‰ com 30 mm de diâmetro e 6,65 gramas de prata. Sem marquilha. Apenas se conhece um tipo.

TOSTÕES DE D. ANTÔNIO I - Moedas em prata de 916,6‰ que inicialmente tinham 30 mm de diâmetro e 8,6 gramas de prata. Sem marquilha. As vicissitudes do reinado obrigaram a reduzir o seu diâmetro para 24mm e depois para 22mm. Apenas uma foi cunhada em Lisboa; as restantes foram cunhadas em Angra do Heroísmo de onde D. António partiu para o exílio. D. Filipe I proibiu a posse destas moedas e mandou entregá-las no prazo de 15 dias; a pena era a forca. Devido à proibição da sua posse e às reduzidas cunhagens, são todas muito raras. Foram também carimbados com um “Açor” alguns exemplares dos reinados anteriores.

TOSTÕES DE D. FILIPE I - Moeda em prata de 916,6‰ de 32mm de diâmetro e 8,19 gramas. Sem marquilha. Todas cunhadas em Lisboa. Há 28 tipos conhecidos.

TOSTÕES DE D. FILIPE II - Moeda em prata de 916,6‰ de 32 mm de diâmetro e 8,19 gramas. Sem marquilha. Todas cunhadas em Lisboa. Há 49 tipos conhecidos.

TOSTÕES DE D. FILIPE III - Moeda em prata de 916,6‰ de 30mm de diâmetro e 8,19 gramas. Sem marquilha. Todas cunhadas em Lisboa. Há 30 tipos conhecidos.

TOSTÕES DE D. JOÃO IV - Pela Provisão de 14 de fevereiro de 1641 foram cunhados em prata de 916,6‰ de 28 mm de diâmetro e 8,19 gramas. Sem marquilha. Cunhadas em Lisboa. Há 12 tipos conhecidos. Pela primeira vez há algumas com a data de 1641.

- Pela Provisão de 1 de Julho de 1641 mantêm o módulo mas o peso é reduzido para 6,74 gramas. São cunhados em Lisboa com as datas de 1641 e 1642. Há 19 tipos conhecidos.

- Pelo Alvará de 8 de Junho de 1643 o peso é reduzido para 5,73 gramas, com 26mm de diâmetro. São cunhados em Lisboa, Porto e Évora e não têm data. Há 53 tipos conhecidos.

TOSTÕES DE D. AFONSO VI - Pela Lei anterior, em prata de 916,6‰ com 26 mm de diâmetro e 5,73 gramas. Sem marquilha. Cunhados em Lisboa com 5 tipos conhecidos e sem data. Pela Lei de 22 de Março de 1663 passam a 24 mm e 4,58 gramas. Não têm data e há 20 tipos conhecidos.
Com o Carimbo “100” foram marcados vários “LXXX reais” de reinados anteriores.

TOSTÕES DE D. PEDRO REGENTE - Pela Lei de 22 de Junho de 1676, cunhados em prata de 916,6‰ com 24 mm e 4,58 gramas. Sem marquilha. Apenas se conhece um exemplar cunhado em Lisboa.

 INÍCIO DA CUNHAGEM MECÂNICA - 1677

Ao final de 1677, era D. Pedro o Príncipe Regente em nome de seu pai D. Afonso VI. Dá início à cunhagem mecânica utilizando uma prensa para de balancim.

TOSTÕES DE D. PEDRO REGENTE (Continuação) - Pela Lei de 22 de Junho de 1676, com 24 mm e 4,32 gramas. Sem marquilha. Cunhados em Lisboa, sem data. Há 7 tipos conhecidos.

TOSTÕES DE D. PEDRO II - Decreto de 28 de Setembro de 1683 cunhados em prata de 916,6‰ com 24 mm e 4,32 gramas. Sem marquilha. Cunhados em Lisboa, conhecem-se dois tipos.

 Lei de 4 de agosto de 1688

Subitamente, os valores da prata e do ouro subiram cerca de 20%. Isso causou um grande problema para a Tesouraria Real pois não era possível recolher rapidamente todas as moedas para que fossem novamente fundidas e fazer uma nova moeda. Assim, pela lei de 4 de agosto de 1688, foram fixados novos valores para as moedas de ouro e prata, incrementando o seu valor em cerca de 20 %.

A lei foi de extrema habilidade para a época, mas, quando se esperava que lentamente fossem recolhidas as antigas moedas e cunhadas novas com o peso reduzido, ficámos durante muito tempo (150 anos) com um sistema monetário em que as moedas de cobre tinham o seu valor facial, e as de ouro e prata, apesar de ostentarem um valor facial, valiam cerca de 20 % mais. Ou seja:

Para aumentar a confusão monetária, D. Pedro II manda ainda carimbar Cruzados velhos com “500” e Meios Cruzados velhos com “250”. Significava que, simultaneamente, corriam Cruzados com marquilha “400” que valiam 480 réis, Cruzados com carimbo “500” valendo 500 réis, Meios Cruzados com marquilha “200” valendo 240 réis e Meios Cruzados com carimbo “250” valendo 250 réis.

Com D. João V, apesar de ter introduzido novas espécies monetárias em ouro, a regra dos 20% se manteve. Só em 1853, 147 anos depois e com a introdução do sistema decimal, é que esta regra finalmente desapareceu.

TOSTÕES DE D. PEDRO II (nova lei):  - Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,46 gramas. Marquilha “LXXX”. Cunhados em Lisboa, sem data, conhecidos 19 tipos. Também cunhados no Porto com datas de 1689, 1690, 1691, 1692, 1693, 1696, 1697, 1699, 1700 e 1702.

TOSTÕES DE D. JOÃO V - Em prata de 916,6‰ de 21 mm de diâmetro e com 3,27 a 3,6 gramas. Todos com serrilha e marquilha “LXXX”. Conhecem-se 14 tipos cunhados em Lisboa todos sem data. No Porto foi cunhado apenas um tipo com data de 1707.

TOSTÕES DE D. JOSÉ I - Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha “LXXX”. Conhecem-se 11 tipos, todos cunhados em Lisboa e sem data.

TOSTÕES DE D. MARIA I E D. PEDRO  III - Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha “LXXX”. Conhecem-se 3 tipos, todos cunhados em Lisboa e sem data.

TOSTÕES DE D. MARIA I - Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha “LXXX”. Conhecem-se 7 tipos, todos cunhados em Lisboa e sem data.

TOSTÕES DE D. JOÃO REGENTE - Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha “LXXX”. Conhecem-se 3 tipos, todos cunhados em Lisboa e sem data.

TOSTÕES DE D. JOÃO VI - Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha “LXXX”. Conhecem-se 3 tipos, todos cunhados em Lisboa e sem data.

TOSTÕES DE D. PEDRO IV - Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha “LXXX”. Conhece-se um tipo, cunhado em Lisboa e sem data.

TOSTÕES DE D. MIGUEL I - Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha “LXXX”. Conhecem-se dois tipos, cunhados em Lisboa e sem data.

SISTEMA DECIMAL - Lei de 24 de abril de 1835

Em 1834, D. Maria II é empossada no trono, e as cunhagens vão além daquelas que seriam regulares nos reinados anteriores, era necessário uma cunhagem mais numerosa para  se fazer frente às necessidades da guerra e também para afirmação política. Assim, circulam as patacas de Bronze cunhadas por D. João Regente, D. João VI, D. Pedro IV, D. Miguel e as cunhadas no Porto em nome de D. Maria II.

Enquanto D. Miguel é rei são fundidos os canhões e os sinos da ilha Terceira para cunhar, em nome de D. Maria II, os 80 reis de 1829 (Maluco). Em 1830 são cunhados em Londres os V e os X réis de cobre (D. Maria II). Em 1833 são cunhados no Porto, durante o cerco, os V, X e 40 Réis - Série LOIOS de D. Maria II. Em 1834 são carimbados os reales, sobre ocho reales espanhóis para os valorizar em 870 réis. Há por conseguinte muita moeda em circulação, das mais variadas origens e muitas delas eram falsas. Exceto na Inglaterra, todos os países Europeus já utilizavam o sistema decimal.

Há então a necessidade de cunhar uma nova moeda, mais ideal e adequada para introduzir ao sistema decimal, este problema é resolvido com a Lei de 24 de Abril de 1835. Mantendo as legendas em latim. A partir desta data todas as moedas têm marquilha, sendo as de cobre em algarismos romanos e as de prata e ouro em algarismos arábicos.

TOSTÕES DE D. MARIA II - Não se cunharam tostões pela lei antiga. Cunharam-se em prata de 916,6‰ com 19 mm de diâmetro e 2,96 gramas. Marquilha “100 RÉIS” e com as datas de 1836, 1838, 1843, 1851, 1853 e (1853 Proof).

TOSTÕES DE D. PEDRO V - Cunharam-se em prata de 916,6‰ com 20 mm de diâmetro e 2,50 gramas. Marquilha “100 RÉIS” e com as datas de 1857, 1858, 1859, (1859 Proof) e 1861.
TOSTÕES DE D. LUÍS I - Cunharam-se em prata de 916,6‰ com 20 mm de diâmetro e 2,50 gramas. Marquilha “100 RÉIS”. Conhecidos 22 tipos com datas de 1862 a 1889.

TOSTÕES DE D. CARLOS I - Pelo Decreto de 7 de Maio de 1891 cunharam-se em prata de 916,6‰ com 20 mm de diâmetro e 2,50 gramas. Marquilha “100 RÉIS”. Conhecidos 7 tipos com datas de 1890 a 1898.

Pela Lei de 21 de Julho de 1899 cunharam-se em cuproníquel com 23mm de diâmetro e 4,00 gramas; marquilha “100 RÉIS” apenas um tipo com data de 1900.

A partir de D. Carlos todas as moedas têm a legenda em Português e não há mais algarismos romanos.

TOSTÕES DE D. MANUEL II - Pela Lei de Setembro de 1908 cunharam-se em prata de 835‰ com 20 mm de diâmetro e 2,50 gramas. Marquilha “100 RÉIS”. Conhecidos 3 tipos com datas de 1909, 1910 e (1910 proof). Houve, nesse período, a primeira quebra do teor da prata, que foi reduzido.


IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA - 1910

Em 5 de Outubro de 1910 uma revolução põe fim ao regime monárquico e é implementada a República. As antigas moedas continuam a ter curso legal e só em 22 de Maio de 1911, por Decreto de Lei, é criada uma nova unidade de contagem: O Escudo então é dividido em 100 Centavos. Porém, só em 1912 é cunhada a primeira moeda de 50 centavos; seguem os 20 centavos em 1913 e os 10 centavos e 1$00 em 1915. A moeda em cobre tarda e assim, chegam as cédulas de recurso emitidas pelas Câmaras Municipais e outras entidades. Os portugueses tiveram que esperar até 1917 para ver cunhado seu primeiro centavo em bronze.

TOSTÃO DE PRATA - Último tostão em prata de 835‰ com 20 mm de diâmetro e 2,50 gramas. Marquilha “10 CENTAVOS”. Apenas um tipo com data de 1915.

TOSTÃO DE CUPRO-NÍQUEL - Com 19 mm de diâmetro e 3,00 gramas. Marquilha “10 CENTAVOS”. Conhecidos dois tipos com datas de 1920 e 1921.

TOSTÃO DE BRONZE (1ª série) - Com 22 mm de diâmetro e 4,00 gramas. Marquilha “10 CENTAVOS”. Conhecidos 6 tipos com datas de 1924, 1925, 1926, 1930, 1938 e 1940.

TOSTÃO DE BRONZE (2ª série) - Com 17,5 mm de diâmetro e 2,00 gramas. Marquilha “X CENTAVOS”. Conhecidos 31 tipos com datas de 1942 a 1969. Apenas nesta série, moedas de X e XX centavos, aparecem de novo os algarismos romanos.

TOSTÃO DE ALUMÍNIO - Com 15 mm de diâmetro e 0,50 gramas. Marquilha “10 CENTAVOS”. Conhecidos 11 tipos com datas de 1971 a 1979.


BIBLIOGRAFIA:

MOEDAS PORTUGUESAS- Alberto Gomes, Lisboa, 2003
LA NUMISMATIQUE EM 10 LEÇONS - P. Perriere / P. Colombani, Paris, 1979
HISTÓRIA DEL DINERO – E. Victor Morgan, Madrid, 1972
READAPTAÇÃO PARA O PORTUGUÊS DO BRASIL – Bruno Diniz

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