A Idade média caracterizou-se pela diminuição do
comércio devido à desorganização social gerada pelas invasões bárbaras. Com
isto, diminuiu a necessidade de uso de moeda. No entanto, em algumas regiões,
como por exemplo no império bizantino, o comércio continuou a ser praticado em
larga escala. Isto exigia uma moeda confiável e aceita por todos. Esta moeda
era o nomisma, besante, histamenon ou solidus, famosa moeda bizantina de ouro.
Durante a Idade média, era comum se depositar ouro
nas oficinas dos ourives visando à segurança do ouro contra eventuais ladrões.
Em troca, os ourives emitiam títulos onde se obrigavam à devolução do ouro
depositado. Para efetuar transações envolvendo o ouro depositado, as pessoas
começaram a utilizar esses títulos como moeda, em vez de resgatar o ouro e
efetuar as transações com o próprio metal, por uma questão de praticidade e
segurança. Era o início das cédulas monetárias e dos bancos.
- Em 1190, houve a primeira cunhagem da libra
esterlina, na Inglaterra, durante o reinado de Ricardo II.
- Em 1360, surgia o "franco", na França. O
nome "franco" vem das primeiras cunhagens da moeda, que traziam a
inscrição em latim francorum rex, que significa "rei dos francos".
Nessa mesma época, do outro lado do Oceano
Atlântico, no Império Asteca, outros materiais eram utilizados como moeda:
sementes de cacau e feijão, pedaços de pano e tubos de penas de aves cheios de
ouro em pó. Enquanto isso, no continente asiático, o Império Khmer utilizava o
escambo e os tecidos de seda no pequeno comércio e os metais preciosos nas
transações de maior valor. Na África, a região do atual Moçambique utilizava
búzios, aspas de ferro e raques de penas de pato preenchidas com ouro em pó como
moedas.
No final da Idade Média, houve um renascimento
comercial e urbano, no período conhecido como Baixa Idade Média
(aproximadamente de 1000 a 1500). O comércio no Mar Mediterrâneo foi dominado
por poderosas cidades mercantis como Barcelona, Pisa, Amalfi, Gênova, Florença
e Veneza. Data desse período a invenção do cheque na Florença dos Médici. O
banco dessa família, no século XIV, passou a emitir talões em branco onde o
depositante podia escrever o valor que desejasse sacar de sua conta no banco.
MAIS DETALHES...
Moedas de ouro, conhecidas como besantes, eram
cunhadas no Império Bizantino e no Califado árabe, mas eram quase desconhecidas
na Europa Ocidental (salvo, talvez, no comércio de Veneza) até o início da era
das cruzadas. Durante todo o período, o padrão monetário baseou-se em moedas de
prata, com moedas fracionárias de cobre. A moeda que por mais tempo representou
o padrão monetário foi o dinheiro de prata. Seu poder aquisitivo oscilava
conforme a conjuntura e a abundância relativa de metais preciosos, mas em geral
representava o sustento de uma família por alguns dias. Para uma comparação
aproximada do poder aquisitivo das diferentes moedas européias usamos aqui uma
unidade arbitrária, representada por Ð. Um Ð representa o poder aquisitivo de
um dólar estadunidense em fins de 2000, e também equivale aproximadamente ao
ganho diário de um assalariado humilde em tempos pré-modernos.
ALTA IDADE MÉDIA
O primeiro padrão monetário a se difundir na Europa Ocidental após a
queda do Império Romano do Ocidente foi estabelecido pelo Imperador Carlos
Magno por volta de 800 d.C. Era baseado no denarius,
Nem a libra, nem o soldo foram originalmente verdadeiras moedas: no
Ocidente tanto o solidus como a libraeram moedas de conta, meros coletivos de
denarius.
A moeda de meio denarius era chamada obolus (símbolo ob~) e um quarto de
denarius, quadrans (símbolo q/r). Moedas baseadas no denarius de Carlos Magno
também circulavam em Portugal com o nome de dinheiro, na França como denier, na
Espanha como dinero e na Itália como denaro, na Alemanha como Pfennig e na
Inglaterra como penny (plural pence) ou sterling. Também os nomes dos seus
múltiplos foram usados em outros países da Europa Ocidental: em Portugal, soldo
e libra; na França, sou (que se escrevia sol até o século 18) e livre; na
Itália, soldo e lira; na Espanha, sueldo e libra.
nome
latino |
nome
português |
nome
francês |
nome
inglês |
nome
italiano |
nome
castelhano |
símbolo
|
conteúdo
metálico |
valor nominal
em denarii |
poder aquisitivo
aproximado em Ð |
Libra
|
libra
|
livre
|
pound
|
lira
|
libra
|
£
|
414 g prata
|
240
|
Ð 1.440,00
|
Solidus
|
soldo
|
sou
|
shilling
|
soldo
|
sueldo
|
s
|
20,7 g prata
|
12
|
Ð 72,00
|
Denarius
|
dinheiro
|
denier
|
penny
|
denaro
|
dinero
|
d
|
1,725 g prata
|
1
|
Ð 6,00
|
Obolus
|
mealha
|
half penny
|
meaja
|
ob~
|
n/d
|
½
|
Ð 3,00
|
||
Quadrans
|
farthing
|
q/r
|
n/d
|
¼
|
Ð 1,50
|
IMPÉRIO
BIZANTINO >>>>>
Solidus, cunhado no reinado da imperatriz Irene (792-802) |
Na Alta Idade Média, só o Império Bizantino cunhava moedas de ouro:
desde 717 o solidus ou nomisma(conhecida no Ocidente como besante) de 4,48 g de
ouro a 98%, dividido em 12 miliaresia de prata de 2,25 gramas – ou até 14,
dependendo do preço relativo dos metais. Nessa época o ouro valia 6 a 7 vezes
mais que a prata. Cada miliaresion se dividia em 24 follera de cobre de 8
gramas.
O besante foi desvalorizado pela redução do conteúdo em ouro, lentamente
a partir de 867 e mais rapidamente a partir de 1057, quando o Império sofreu
uma grave derrota militar. Foi sucedida a partir de 1092 pelo hyperpyron com
4,45 gramas de ouro de 20½ quilates ou 85%, também gradualmente desvalorizado a
partir de 1185 até ser abandonado em 1354. O padrão bizantino foi seguido pelos
reinos dos cruzados.
Nome:
|
Símbolo
|
Conteúdo
metálico: |
Valor nominal
em miliaresia: |
Poder aquisitivo
aproximado em: |
Nomisma,
solidus ou besante
|
4,48 g ouro 98%
|
12
|
Ð 115,20
|
|
Semisses
|
2,24 g ouro 98%
|
6
|
Ð 57,60
|
|
Tremisses
|
1,12 g ouro 98%
|
3
|
Ð 28,80
|
|
Miliaresion
|
2,25 g prata
|
1
|
Ð 9,60
|
|
Keration
|
1,125 g prata
|
½
|
Ð 4,80
|
|
Follis
|
M
|
8 g cobre
|
1/24
|
Ð 0,40
|
Obolos
|
K
|
4 g cobre
|
1/48
|
Ð 0,20
|
Dekanumion
|
I
|
2 g cobre
|
1/96
|
Ð 0,10
|
Pentanumion
|
E
|
1 g cobre
|
1/192
|
Ð 0,05
|
MUNDO ÁRABE >>>>>
Dinar cunhado pelo califa Abd al-Malik (696-697) |
Nos países árabes, incluindo o califado de Córdoba que dominava os
atuais Portugal e Espanha, o besante foi reproduzido com o nome de dinar
(também do latim denarius), ao lado do qual circulava o dirham (do grego
drachma) de prata e o fuls (de follis, singular de follera) de cobre. Em
696-697, o califa Abd al-Malik instituiu uma reforma monetária, pela qual o
peso do dinar foi reduzido de 4,55 para 4,25 gramas, unidade de peso desde
então conhecida no mundo islâmico como mithqal e foi proibido o uso de imagens
de governantes ou outras quaisquer nas moedas, desde então cunhadas apenas com
inscrições em árabe.
Nome
|
Conteúdo
metálico |
Valor nominal
em dirham |
Poder aquisitivo
aproximado em Ð |
Dinar
|
4,25 g ouro
|
8 a 9
|
Ð 110,00
|
Dirham
|
3,03 g prata
|
1
|
Ð 13,00
|
Fuls
|
8 g cobre
|
aprox. 1/30
|
Ð 0,40
|
BAIXA IDADE
MÉDIA
Florim de ouro de 1347 |
Grosso ou Mattapan veneziano, do doge Giovanni Soranzo, 1312-1328 (1,78g). |
Na maior parte da Europa Ocidental não se sentiu necessidade de moedas de ouro, ou mesmo de moedas de prata maiores que o denarius, até cerca de 1200. Foi a partir de 1172 que o crescimento do comércio dentro da Europa Ocidental e com o Oriente (estimulado pelas Cruzadas) levou Gênova a introduzir moedas de prata de maior valor conhecidas como grossus de 4d, nome que generalizou-se para moedas de prata de tamanho médio.
Em 1252, apareceram também moedas de ouro, cunhadas por Florença com o
nome de florim e logo depois também por outras cidades-estado italianas.
Derivada dos últimos besantes e dinares, tinha 3,536 gramas de ouro quase puro
(originalmente equivalentes à já desvalorizada libra florentina de prata) e foi
até 1650 a moeda de ouro mais comum na Europa, inicialmente com o valor de 240
denarii florentinos (mais tarde, com a desvalorização deste, 580). Era chamada
florim (em Florença), cequim (em Veneza), écu (na França), schild (em
Flandres), gulden (na Alemanha), zloty (na Polônia), ducado (em vários países
europeus), dinar (nos países árabes).
Portugal e Espanha haviam herdado dos árabes o dinar de ouro, com os
nomes locais de morabitino (em Portugal) e maravedí (na Espanha) derivados de
murabiti, nome árabe da poderosa dinastia dos almorávidas que dominou grande parte
da Península Ibérica de 1093 a 1148 e definiu o padrão original dessas moedas.
O valor delas, porém, foi rapidamente reduzido por sucessivas desvalorizações
ao longo dos séculos 13 e 14 e no século 15, porém, tanto Espanha quanto
Portugal lançaram novas moedas de ouro com valores muito próximos do antigo
florim : o escudo (na Espanha) e o cruzado (em Portugal, onde valia
inicialmente 400 réis).
Na Alemanha, o título do gulden caiu até chegar a 77% (18½ quilates) em
1490. A Inglaterra tentou cunhar uma moeda de ouro chamada gold penny (de 2,892
g, valendo 20 pence de prata ou Ð 80) em 1257, mas não teve aceitação.
Moedas medievais - séculos XII
e XIII
nome
|
emissão
|
conteúdo
metálico |
poder aquisitivo
aproximado em Ð |
Grossus
|
Gênova 1172
|
n/d
|
Ð 30,00
|
Florim
de ouro
|
Florença 1250, depois vários países
|
3,560 g ouro 99,5%
|
Ð 144,00
|
Florim
de prata
|
Florença 1250, depois vários países
|
n/d
|
Ð 7,20
|
Denaro
|
Florença 1250
|
n/d
|
Ð 0,60
|
Maravedi
de ouro
|
Castela 1260
|
n/d
|
Ð 79,20
|
Maravedi
de prata
|
Castela 1260
|
n/d
|
Ð 13,20
|
Dinero
|
Castela 1260
|
n/d
|
Ð 6,60
|
Maravedi
burgalês
|
Castela 1260
|
n/d
|
Ð 2,20
|
Meaja
|
Castela 1260
|
n/d
|
Ð 1,10
|
Sueldo
|
Aragão 1260
|
n/d
|
Ð 113,00
|
Dinero
|
Aragão 1260
|
n/d
|
Ð 9,40
|
Moedas medievais - século XIV
nome
|
emissão
|
conteúdo
metálico |
poder aquisitivo
aproximado em Ð |
Stuiver
|
Flandres, 1300
|
8,440 g prata 95,83%
|
Ð 30,00
|
Gros
tournois
|
França e Flandres, 1300
|
4,220 g prata 95,83%
|
Ð 15,00
|
Maravedi
de prata
|
Castela, 1300
|
1,13 g prata
|
Ð 4,00
|
Gros
|
Brabante, 1300
|
n/d
|
Ð 10,00
|
Lira affiorino
|
Florença, 1300-1350
|
n/d
|
Ð 76,00
|
Florim
de prata affiorino
|
Florença, 1300-1350
|
n/d
|
Ð 3,80
|
Denaro
affiorino
|
Florença, 1300-1350
|
n/d
|
Ð 0,16
|
Angelot
|
França, 1340
|
5,7 a 6,3 g ouro
|
Ð 0,16
|
Moedas medievais - século XV
nome
|
emissão
|
conteúdo
metálico |
poder aquisitivo
aproximado em Ð |
Florim
de ouro
|
vários países, 1400-1450
|
3,560 g ouro 99,5%
|
Ð 200,00
|
Gulden de ouro
|
Alemanha e Borgonha, 1490-
|
3,560 g ouro 77%
|
Ð 160,00
|
Stuiver
|
Flandres, 1418
|
3,599 g prata 50%
|
Ð 8,00
|
Gros
|
Flandres, 1418
|
n/d
|
Ð 4,00
|
Gros
|
Brabante, 1418
|
n/d
|
Ð 2,67
|
Mite
|
Flandres, 1418
|
n/d
|
Ð 0,33
|
Stuiver
|
Flandres, 1428
|
3,753 g prata 44,44%
|
Ð 7,00
|
Angelot
|
França, 1422-61
|
2,27 g ouro
|
Ð 110,00
|
Tostão ou Testone
|
Milão, 1472-76
|
9,8 g prata
|
Ð 60,00
|
Thaler
|
França, 1468-
|
29 g prata
|
Ð 180,00
|
PORTUGAL >>>>>
Moeda de ½ real branco, de D. João I |
Em Portugal, as denominações monetárias herdadas do antigo sistema
carolíngio já estavam consideravelmente desvalorizada quando, em 1253, Afonso
III taxou o marco de prata (1 marco = 227,8 gramas = meia libra-peso) em 12
libras portuguesas, 240 soldos ou 2.880 dinheiros. Esse sistema é conhecido com
L - S - D (libra - soldo - dinheiro).
O dinheiro se dividia em duas mealhas – palavra que deu origem às
palavras "mealheiro" e "amealhar", ainda muito usadas. A
moeda de maior valor era o morabitino (em espanhol, maravedi), cujo nome vinha
de murabiti, nome árabe da poderosa dinastia dos almorávidas que dominou grande
parte da Península Ibérica de 1093 a 1148 e ditou o primeiro padrão para essa
moeda. Em 1264, um morabitino velho valia 27 soldos, um morabitino novo, 22.
Doze dinheiros valiam um soldo até o reinado de Afonso IV (1325-1357), quando
um soldo passou a valer apenas 9 dinheiros.
Moedas portuguesas, 1253 -
1325
nome
|
conteúdo
metálico |
valor nominal
em dinheiros |
poder aquisitivo
aproximado em Ð |
Mealha
|
n/d
|
½
|
Ð 0,15
|
Dinheiro
|
n/d
|
1
|
Ð 0,30
|
Soldo
|
0,95 g prata
|
12
|
Ð 3,60
|
Libra
|
18,98 g prata
|
240
|
Ð 72,00
|
Morabitino
novo
|
n/d
|
264
|
Ð 79,20
|
Morabitino
velho
|
n/d
|
324
|
Ð 97,20
|
Após várias
desvalorizações para financiar guerras contra Castela, que criaram uma grande
confusão monetária e transtornaram as relações entre dinheiro, soldo e libra, o
rei D. Duarte, em 1435, decidiu abolir a libra como unidade monetária,
colocando em seu lugar o real branco (sendo 1 real = 35 libras portuguesas)
cuja cunhagem havia sido iniciada pelos seu predecessor D. João I.
O adjetivo o
distinguia do real preto (de cobre), também cunhado pelo seu predecessor, pois
o real branco era cunhado em uma liga de prata com cobre chamada bolhão (ou
bilhão), contendo teoricamente 41,67% (5/12) de prata, mas na prática,
freqüentemente, apenas 25%. O real branco, ou simplesmente real, tornou-se, por
mais de 400 anos, a unidade monetária de Portugal e do Brasil.
Uma grama de
ouro correspondia então a 35 reais – logo chamados réis, pois a freqüência do
uso da palavra levou a abreviá-la. Havia ainda velhos soldos em circulação, de
diversos valores: ao que parece, houve soldos que valeram um real, quatro
ceitis e 2/7 réis. Algumas fontes também indicam que havia
"dinheiros" em circulação, com valor de ¼ de real.
Em 1448,
para substituir o real preto retirado de circulação em 1442, começou a ser
cunhada uma nova moeda de cobre chamada ceitil, valendo 1/6 do real branco. Continuou
a circular até 1580, quando seu valor aquisitivo havia caído para cerca de Ð
0,025 e havia se tornado sinônimo de insignificância, dando origem a expressões
que ainda permanecem na língua, como "ficar sem ceitil" e "não
pagar um ceitil".
Moedas portuguesas, 1435-1452
nome
|
conteúdo
metálico |
valor nominal
em réis |
poder aquisitivo
aproximado em Ð |
Libra
|
n/d
|
1/35
|
Ð 0,04
|
Real
branco
|
1,13 g bolhão (prata 25%)
|
1
|
Ð 1,40
|
Ceitil
|
n/d
|
1/6
|
Ð 0,23
|
Soldo
|
variável
|
1, 2/3 ou 2/7
|
Ð 0,40, Ð 0,93 ou Ð 1,40
|
Dinheiro
|
n/d
|
¼
|
Ð 0,35
|
INGLATERRA >>>>>
Como outros países da Europa Ocidental, a Inglaterra iniciou sua
história monetária com o padrão estabelecido pelo Imperador Carlos Magno por
volta de 800 d.C. Era baseado no denarius, definido teoricamente como 1/240 de
uma libra carolíngia (plural, librae) de 489,6 gramas.
Na Inglaterra, onde foi cunhada pela primeira vez no reinado de Alfredo,
o Grande (871-899), seu nome popular era penny (plural pence) ou sterling, mas
lá, como em toda a Europa Ocidental, a língua oficial era o latim, de forma que
os contadores simbolizavam o penny por d e, por algum tempo, o meio penny por
ob~ e o quarto de penny ou farthing por q/r . Na Inglaterra, como na maior
parte da Europa Ocidental, não se sentiu necessidade de moedas de ouro, ou
mesmo de moedas de prata maiores que o denarius, até cerca de 1200. Eram usadas
as denominações solidus (em inglês shilling), representada por s, para uma soma
de 12 d, e libra (em inglês pound), representada por £, para 240 d, mas não
existiam moedas desse valor: no Ocidente tanto o soliduscomo a libra eram meras
moedas de conta, ou coletivos de denarius. Essas representações continuaram
sendo usadas mesmo depois que o inglês substituiu o latim no uso oficial.
Assim, desde Alfredo o Grande até a introdução do sistema decimal em 1970, uma
soma de 30 pence sempre foi representada como 2s 6d, ou então 2/6.
A partir do final do século 12, o crescimento do comércio dentro da
Europa Ocidental e com o Oriente (estimulado pelas Cruzadas) levou as
cidades-estados italianas a introduzir moedas de prata de maior valor
conhecidas como grossus (nome que generalizou-se para moedas de prata de
tamanho médio) e, no século 13, também moedas de ouro de aproximadamente 3,5 g,
os florins ou cequins, que seguiam o padrão dos besantes do Império Bizantino e
dos dinares árabes. A Inglaterra tentou nessa mesma época cunhar uma moeda de
ouro chamada gold penny (de 2,892 g, valendo 20 pence de prata ou Ð 80) em
1257, mas não teve aceitação.
O desenvolvimento do comércio e a ascensão da classe burguesa também
trouxe, porém, desequilíbrios comerciais e financeiros, inflação e
desvalorizações. O penny da então relativamente isolada e atrasada Inglaterra
resistiu melhor que a maioria de seus similares no continente europeu. Na
primeira cunhagem onde os pesos foram cuidadosamente atestados por documentos
históricos, de 1247, uma tower pound de prata esterlina (isto é, com título de
92,5%), de 349,9144 gramas, rendia 242 pence (que, portanto, tinha 1,446
gramas) mas em 1275 cada penny passou a ter apenas 1,44 g de prata (1/256 da
tower pound).
Em 1279, o Reino da Inglaterra declarou com seu único padrão monetário a
moeda de prata esterlina cunhada no país, pois a maioria das moedas do
continente tinham reduzido seu título para 80% (e em alguns, como Portugal, o
dinheiro já estava reduzido a mera moeda de cobre), porém, mais tarde, as
desvalorizações tiveram que ser retomadas: em 1346 para 1,296 g (1/288), em
1351 para 1,1664 g (1/320), em 1411 para 0,972 g (1/384), em 1464 para 0,7776 g
(1/480).
O penny foi novamente desvalorizado em 1526 e ao mesmo tempo a unidade
de peso deixou de ser a tower pound para ser a troy pound, de 373,242 g. O
penny 1/540 da troy pound ou 0,6912 g. Em 1544, 0,648 g (1/576) e em 1551
0,5184 g (1/720). No final do processo, o penny ou sterling perdeu dois terços
do seu peso original, mas a soma de 240 pence continuou a ser chamada de libra
esterlina (sterling pound), mesmo se, na realidade, passou a pesar apenas um
terço de libra troy.
Em 1344, o rei inglês Eduardo III contratou dois florentinos para cunhar
as primeiras moedas de ouro inglesas: double leopard ou florim (72 pence, que
na época tinham poder aquisitivo de cerca de Ð 324), leopard ou meio florim (36
pence) e helm ou quarto de florim (18 pence). Porém, esses valores nominais (que
supunham uma relação ouro/prata de 1/12,4) eram superiores ao seu valor
intrínseco em ouro segundo os preços da época (1 parte de ouro valia 11,16 de
prata) e os mercadores as rejeitaram. O rei tentou outra vez em 1351, quando
reduziu o peso das moedas de prata e introduziu as moedas de ouro chamadas
noble (de 80 pence, com 7,78 gramas de ouro, com poder aquisitivo de
aproximadamente Ð 280), meio noble e quarto de noble ou ferlin, que tiveram
mais sucesso. Ele introduziu também a versão inglesa do grossus, que em inglês
tornou-se groat, também de 4 d (cerca de Ð 14), com 6,3 g de prata.
Valor médio das unidade
monetárias inglesas
Período
|
Libra
|
Shilling
|
Penny
|
1264 a 1274
|
Ð 1.235,00
|
Ð 61,77
|
Ð 5,15
|
1275 a 1299
|
Ð 1.127,00
|
Ð 56,34
|
Ð 4,69
|
1300 a 1350
|
Ð 985,00
|
Ð 49,27
|
Ð 4,11
|
1350 a 1399
|
Ð 895,00
|
Ð 44,76
|
Ð 3,73
|
1400 a 1449
|
Ð 1.007,00
|
Ð 50,35
|
Ð 4,20
|
1450 a 1499
|
Ð 1.062,00
|
Ð 53,10
|
Ð 4,43
|
FRANÇA >>>>>
Até o início do século 12, o sistema monetário francês, análogo ao
inglês, evoluiu a partir de uma desvalorização progressiva do sistema
carolíngio, mas em agosto de 1266 o rei Luís IX introduziu um novo sistema
baseado numa livre tournois de 970,56 gramas de prata 95,8% (23/24), quase o
dobro da libra inglesa. Era dividida em 240 gros tournois, cada um destes com
4,22 gramas, que equivaliam cada um a 1 solidus (em francês antigo sol, hoje
sou) da desvalorizada libra carolíngia.
Essa moeda deixou de ser cunhada por volta de 1330, mas em Flandres, com
o nome de groot, sobreviveu como uma "moeda de conta" até o século
15. A libra francesa de prata dividia-se em 20 sols, 80 liards e 240 deniers ou
dinheiros, salvo em certo período (a partir de 1360) em que se dividiu em 25
sols tournais.
Unidades monetárias francesas
em 1266
unidade
|
valor nominal
em deniers |
poder aquisitivo
aproximado em Ð |
livre
de gros tournois
|
2.880
|
Ð 3.600,00
|
livre
|
240
|
Ð 300,00
|
gros
tournois,
ou sol tournois
|
12
|
Ð 15,00
|
denier
|
1
|
Ð 1,25
|
Valor da libra francesa, 1266-1541
Ano
|
gramas de ouro puro
|
poder aquisitivo
aproximado em Ð |
1266
|
8,271
|
Ð 300,00
|
1300
|
4,900
|
Ð 200,00
|
1360
|
3,880
|
Ð 145,00
|
1541
|
1,460
|
Ð 70,00
|
Valor do escudo (écu) francês, 1266-1541
Ano
|
gramas de ouro puro
|
valor em livres
e sous |
poder aquisitivo
aproximado em Ð |
1266
|
4,140
|
10 s
|
Ð 150,00
|
1337
|
4,532
|
10 s
|
Ð 160,00
|
1541
|
3,880
|
£ 2
|
Ð 140,00
|
Referências
- E. H. Phelps Brown e Sheila V.
Hopkins, "Builders' Wage-rates, Prices and Population: Some Further
Evidence," em Economica (fevereiro de 1959): p. 18-37;
- E. H. Phelps Brown e Sheila V.
Hopkins, "Seven Centuries of the Price of Consumables, compared with
Builders' Wage-rates," em Economica (novembro de 1956): p. 296-314;
- E. H. Phelps Brown e Sheila V.
Hopkins, "Wage-rates and Prices: Evidence for Population Pressure in the
Sixteenth Century," em Economica (novembro de 1957): p. 289-306
- Chester L. Krause e Clifford
Mishler, Standard Catalog of World Coins, 1985: Iola, Krause
- John H. Munro, "Money and
Coinage in Late Medieval and Early Modern Europe"
- Kelley L. Ross, "British
Coins before the Florin, Compared to French Coins of the Ancien Régime"
British Museum: Gold dinar of
caliph Abd al-Malik
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