‘GLÓRIA, A CIGANA’ – A mulher que estampou a primeira cédula emitida pelo Banco do México.


A mulher que estampou a primeira nota de cinco pesos emitida pelo Banco do México alimenta um mistério para muitos mexicanos. O site BBC News Mundo foi o responsável por tentar desvendar a história que duraria até hoje (de acordo com o site).

Desde que a cédula entrou em circulação, há rumores de que a mulher - conhecida popularmente como "a cigana" - seria amante do secretário de Fazenda da época, Alberto J. Pani, que ocupou o cargo entre 1923 e 1927. Mas já relatamos aqui no blog uma história muito parecida envolvendo uma nota de Réis, uma bela moça e um ministro brasileiro (Clique para ler a matéria).

Vamos aos rumores da nota mexicana... Sabemos que a nota não traz detalhes ou faz menção à história da efígie da cigana, mas uma foto poderia ser o ponto de partida para a identificação da moça e a consequente comprovação da história. Na imagem podemos perceber os olhos grandes e claros, feições delicadas, brincos grandes e joias em volta da cabeça e do colo, uma perfeita cigana da época. A imagem  da moça circulou durante quase meio século, de 1925 a 1970 sem que qualquer um tenha descoberto algo mais esclarecedor sobre a jovem.



Agora a história fica ainda mais parecida com a história brasileira! O suposto romance do secretário da fazenda mexicano com uma atriz catalã chamada Gloria Faure, pivô de um escândalo que quase abalou as relações entre México e Estados Unidos, só reforçou a lenda. Mas quem é a tal cigana e como realmente ela foi parar na nota de 5 pesos?

O Banco Central do México explicou à BBC News Mundo da seguinte forma:

O ESCÂNDALO INTERNACIONAL - Pani levou a atriz de origem catalã Gloria Faure como sua acompanhante a uma viagem que fez a Nova York como ministro de Estado em setembro de 1925 com o objetivo de fechar acordos com banqueiros de Wall Street. Sabia-se, na época, que eles tinham um caso, como mostra a pesquisa de Mariana Saucedo, especialista em numismática do Banco do México e autora de Extraordinárias Mulheres nas cédulas do México. A informação também aparece no livro Behind the Throne: Servants of Power to Imperial Presidents, 1898-1968 ("Por detrás do trono: servos do poder para presidentes imperiais 1898-1968"), de Robert Freeman Smith.
 
Alberto J. Pani (esq.) foi secretário de Fazenda no governo Plutarco Elías Calles (dir.)

Ambos os especialistas ressaltam que a presença de Faure e sua relação com o titular da pasta passou a ser um problema durante as negociações com os banqueiros, entre eles Thomas W. Lamont.

"Em Nova York, os ultraconservadores contrataram detetives privados para seguir o ministro da Fazenda. Os relatos de suas idas e vindas com Gloria Faure (...) foram enviados a Lamont", destaca Freeman Smith.

Ainda que os banqueiros não tenham dado muita atenção às denúncias de adultério, passaram o que sabiam à imprensa, segundo o autor.

Na edição de 14 de outubro daquele ano, o jornal New York Daily Mirror destacava "uma fotografia de uma bela mulher de cabelos pretos posando com um vestido provocativo com comprimento acima dos joelhos intitulada 'O senhor Pani é um amante encantador'", diz Freeman Smith.

A notícia virou um escândalo e o ministro chegou até a ser acusado de tráfico de pessoas, conforma a pesquisa de Saucedo.

"Pani foi detido em seu quarto de hotel e colocado à disposição das autoridades. Foi um papelão: o ministro esteve a ponto de se demitir e as relações entre os dois países quase foram rompidas", explica a especialista.

As notícias chegaram ao México e, no Congresso, os deputados criticaram duramente a postura de Pani durante a missão oficial em Nova York.

A ORIGEM DO RUMOR - O rumor sobre as relações extraconjugais de Pani e a mulher da nota de 5 pesos surgiu a partir desse episódio.

"Conforme a lenda numismática, Pani, envergonhado pela humilhação que sofreu no país vizinho, teria entregue a foto de sua amante à American Bank Norte Company para que estampassem as primeiras cédulas emitidas pelo Banco do México", afirma Saucedo. Isso porque a empresa americana foi responsável pelo desenho e impressão das notas, diz o diretor geral de emissões do Banco do México, Alejandro Alegre. O Banco Central do México foi criado em 1925, mas apenas a partir de 1969 o país passou a imprimir a própria moeda internamente. Até então, ela era produzida fora do país. A primeira cédula foi de 5 pesos, mas na sequência foram emitidas também notas de 10, 20, 50, 100, 500 e 1.000 pesos.

"A American Bank Note Company propunha, a pedido do banco, os desenhos que estampariam frente e verso das cédulas", ele pontua.

QUEM É A MULHER? - O responsável pelo desenho foi Robert Savage, considerado um dos gravuristas de maior destaque dos Estados Unidos do século 20. A gravura estampada com buril (ferramenta de aço para gravação em madeira e ferro) foi criada em 1910 - 15 anos antes, portanto, da impressão da cédula - pelo artista e está registrada com o nome "cabeça ideal de uma jovem argelina" com o código C-1031.

"Dentro das propostas apresentadas havia esse retrato da jovem argelina. Com certeza a imagem caiu no gosto de quem tinha o poder de decidir como as cédulas seriam adornadas", resume Alegre.

Ainda assim, nem os especialistas em numismática do México nem os dos Estados Unidos conseguiram determinar quem foi a mulher imortalizada por Savage.

"O mito surge a partir da fofoca política da época, do hábito comum em muitos países de se comentar, além das capacidades e talentos dos servidores públicos, suas vidas pessoais", ressalta.

NOSSA OPINIÃO - Na verdade, a semelhança entre as duas histórias é notável. Podemos perceber que as duas versões foram devidamente remontadas por historiadores sérios de ambos os países, deixando no ar uma certa dúvida.

Podemos ainda supor que seria um boato gerado para prejudicar personalidades políticas, visto que o período é praticamente o mesmo e as histórias se assemelham em sua essência.

Outra possibilidade seria confiar nos arquivos da American Bank Note Company e aceitar que as alegorias eram confeccionadas pelos artistas com base em fotografias ou modelos que posteriormente iriam integrar um banco de dados ou portfólio, o qual o cliente poderia escolher como seriam as notas de seu país. Sabemos que até mesmo eram solicitadas alterações nas alegorias escolhidas para que estas pudessem compor da melhor forma a cultura local.

A verdade sobre a história da Cigana ainda está bem longe de ser uma unanimidade, mas encarar como boato e não como uma história comprovada, me parece ser a melhor opção. Fico com a versão do portfólio da ABNCo.

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