O
objetivo desta postagem é apresentar o estudo numismático e notafilico através do
conceito de “documento-monumento”, discutido pelo historiador francês Jacques
Le Goff (1996). Durante o final da década de 1970, principalmente na França, onde foi iniciado um processo de renovação da escrita da história, conhecido como História
Nova ou Nova História. Entre outros desdobramentos no campo de estudos da
história, a História Nova promoveu a revisão do conceito de documento histórico,
fato este conhecido como “revolução documental”. Paralelamente ao surgimento de
novos problemas e novos objetos estudados pela história, a revolução documental
trouxe aos historiadores a relevância de diversas peças documentais que
confirmam fatos históricos, passando a considerar documentos históricos vários
outros tipos de fontes, além dos tradicionais documentos escritos, em particular,
aqueles produzidos oficialmente pelo Estado. (LE GOFF, 1998; TÉTART,2000).
Devemos
lembrar que a revolução documental ocorrida na década de 1970 não foi resumida somente
à revisão e ampliação do conceito de documento histórico. Através de autores,
tais como Le Goff (1996), os documentos passaram a ser interpretados como uma
fonte que não surge naturalmente ou desinteressadamente. Tal como a história que eles
ajudam a narrar, os documentos históricos têm intencionalidade e historicidade,
que acabam revelando muito sobre o contexto em que eles deixaram suas funções
originais para se tornarem documentos, assim como o próprio passado estudado,
através deles, pelos historiadores.
O documento é uma coisa que fica, que dura, e
o testemunho, o ensinamento (...) que ele traz devem ser em primeiro lugar
analisados desmistificando-lhe o seu significado aparente. O documento é
monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro –
voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias (LE GOFF,
1996, p. 547-548).
Diante
das questões expostas, seria pertinente indagar ou de forma mais incisiva
cobrar o meio acadêmico sobre o devido lugar da numismática e da notafilia na
história ou seu lugar nessa discussão? A invenção da moeda metálica possui
indícios antigos que apontam para a China, no período de 1.100 a.C. No âmbito
europeu e mediterrâneo a moeda aparece pela primeira vez no século VI a.C. na
Ásia Menor, na Lídia. Dali seu uso estende-se para a Grécia Antiga, e os
fenícios disseminam seu uso por todo o mediterrâneo.
O
papel-moeda é utilizado pela primeira vez por mercadores chineses na dinastia
Tang (que se estendeu de 618 a 907 d.C.). No Séc. XIII, o famoso navegador
veneziano Marco Polo levou a cabo sua aventura pela China. Seus registros
contém as primeiras descrições ocidentais com relação ao papel-moeda em uma
forma monetária incompreensível para os europeus daqueles tempos devido à falta
de um valor intrínseco e real: o lastro.
Dinheiro chinês 1789 |
Podemos
observar que tanto a moeda metálica como o papel-moeda, possuem funções práticas
e simbólicas que já são evidenciadas há muito tempo pela historiografia, assim
como por outras de saberes científicos, tanto no campo das Ciências Humanas
quanto das Comunicações Sociais, Cultura e Costumes.
Iniciar
uma discussão sobre o enquadramento das moedas metálicas e papel-moeda como
“documentos-monumentos” é de grande importância para a luta contra a
marginalização e o amadorismo da ciência numismática e notafilica no Brasil.
A
cunhagem de uma moeda ou a impressão de uma nota de dinheiro de papel é um ato
permeado pela intencionalidade, principalmente quando se tratam de peças
comemorativas, nas quais a memória e o simbólico são fundamentais. Contudo,
mais que o evento, o fato, personalidades, diversidades culturais, fauna, flora
e culturas tematizadas nas peças, auxiliam os historiadores a também
compreenderem as circunstancias em que tais peças foram emitidas, bem como as
representações dos temas abordados.
O
debate proposto é justo e a intenção ainda mais, pois trata-se de conceito historiográfico,
uma vez que todas as moedas e notas contam a história de alguma forma.
Em
nossa próxima postagem iremos continuar nossa fundamentação com outro tema
muito interessante.
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