Se você é numismata ou colecionador, deve estar se perguntando o que a
moeda de 400 Réis de 1932 está fazendo nessa postagem? Acompanhe a postagem e
descubra!
Nesta semana (22/04) foi comemorado o dia em que Cabral descobriu o
Brasil. Tirando o romantismo do fato, a descoberta de Cabral era totalmente
estratégica para os portugueses. O Jornalista Laurentino Gomes, nos brindou com
preciosas linhas de conhecimento devidamente ilustradas e fundida aos
conhecimentos da ciência numismática.
A chegada de Pedro Álvares Cabral à Bahia em 22 de abril, há 519 anos,
foi um dos segredos mais bem guardados de Portugal no século 16. O rei Dom
Manuel I demorou um ano para comunicar a façanha aos primos espanhóis. A carta
de Pero Vaz de Caminha ficou escondida por 3 séculos. O sigilo tinha menos a
ver com o Brasil do que com as técnicas necessárias para viajar até o litoral
da Bahia. Por trás da localização do Brasil havia outro segredo ainda maior: a
chamada Volta Grande, que levava as caravelas até as fontes das fabulosas
especiarias no Oriente.
As correntes marítimas e os ventos do Atlântico Sul formam uma
engrenagem invisível, que gira no sentido anti-horário. Devido a essas forças
naturais, um navio a vela que saísse de Lisboa jamais conseguiria chegar ao
Oriente navegando junto à costa africana. Para vencer as correntes contrárias do
Atlântico Sul, os portugueses descobriram que era preciso fazer a "volta
grande", velejando primeiro para oeste, depois para o sul, junto ao
litoral brasileiro, e por fim para leste rumo à Índia. Seria portanto inevitável
passar pelo Brasil.
Ao descrever os habitantes da região onde hoje se situam os municípios
de Porto Seguro e Santa Cruz de Cabrália, na Bahia (local da chegada de Pedro Álvares
Cabral em 22 de abril de 1500), Caminha usa, significativamente,
um vocábulo de origem africana. Escreveu Caminha:
“Eles
não lavram, nem criam, nem há aqui boi, nem vaca, nem ovelha, nem galinha nem
outra nenhuma alimária que acostumada seja ao viver dos homens; nem comem senão
deste inhame que aqui há muito”.
Esse trecho da carta de Caminha demonstra o quão grande era a presença
africana em Portugal no início do século 16. Grande ao ponto de já ter
contribuído com pelo menos uma palavra nova no vocabulário da língua
portuguesa: inhame
Caminha referia-se ao cultivo de cará, disseminado entre os índios do
Brasil. A palavra, porém, tinha origem em nyame, raiz comum na formação do
verbo comer nas línguas banto africanas. Era também o nome de um tubérculo
africano, da mesma família do cará dos indígenas brasileiros.
As fabulosas linhas descortinadas por Laurentino Gomes nos mostram um
porto estratégico e um Caminha até certo ponto perplexo com a atividade e modo
de vida dos índios. O Brasil tomaria corpo somente 32 anos após seu
descobrimento, mas isso já é outra história.
ANVERSO
Mapa da América do Sul dividido pelo meridiano de Tordesilhas, ladeado
pelas datas 1532-1932. Na orla, IV centenário da Colonização do Brasil, entre
pontos. Em baixo do mapa, ao lado esquerdo, a sigla WT do gravador Walter
Toledo.
REVERSO
Cruz da Ordem Militar de Cristo. Na orla, 400 réis. No ângulo entre o
braço direito e o pé da cruz a sigla BN do gravador Basílio Nunes.
TEMA: Comemorativa do IV Centenário da
Colonização do Brasil – Série Vicentina
PERIODO: República
PADRÃO: MIL-RÉIS
MATERIAL: Cuproníquel
DIÂMETRO: 30mm
PESO: 12,00g
BORDO: liso
DATA: 1932
TIRAGEM: 416.214 moedas
ALCUNHA: “Quatrocentão”
O VALOR DE MERCADO PARA A MOEDA É DE:
R$15,00 – Para moedas com estado de
conservação em MBC (Muito Bem Conservada)
R$60,00 – Para moedas com estado de
conservação em SOB (Soberbo)
R$150,00 – Para moedas com estado de
conservação em FC (Flor de Cunho)
Observação:
Existem moedas alusivas ao descobrimento ou ao descobridor do Brasil,
mas nesta postagem elevamos o debate aos primeiros passos da descoberta do
Brasil e para isso utilizamos uma moeda pouco estudada e discutida no meio
numismático (400 Réis 1932).
Fontes:
Laurentino Gomes - Autor dos livros 1808, sobre a fuga da corte
portuguesa para o Rio de Janeiro; 1822, sobre a Independência do Brasil; e
1889, sobre a Proclamação da República. Formado em Jornalismo pela Universidade
Federal do Paraná, tem pós-graduação em Administração na Universidade de São
Paulo. É membro titular da Academia Paranaense de Letras.
Bruno Diniz – Historiador e Numismata, autor do blog Diniz
Numismática e indicado à Ordem do Mérito Cultural em 2016 e 2018.
Imagens: Acervo Diniz Numismática
Tags
moedas do brasil