O Estado brasileiro é
laico desde 1891, quando a primeira Constituição da República estabeleceu a
independência da administração pública com relação a qualquer instituição
religiosa ou credo.
Na atualidade, a
Constituição de 1988 veda explicitamente em seu artigo 19, que a União, estados
e municípios estabeleçam cultos religiosos ou igrejas, criem incentivos ou
privilégios e mantenham relações de dependência com líderes ou instituições
religiosas.
Além da garantia
estabelecida na Carta Magna, existem outros dispositivos legais que ao menos na
teoria confirmam que o Brasil é de fato um Estado laico. No entanto, há a
previsão legal que também garante aos brasileiros e todos os naturalizados e
residentes a liberdade religiosa, que além de tudo é de caráter inviolável. O
Estado deve assegurar o livre exercício dos cultos religiosos e garantir a
proteção aos locais de culto e às suas liturgias.
"Deus seja
louvado" é uma expressão presente na parte inferior esquerda de quase
todas as cédulas de real existentes no Brasil. Ela existe desde a década de
1980, quando o então presidente da República, José Sarney, católico praticante,
solicitou ao Banco Central que a frase fosse incluída nas cédulas do padrão Cruzado.
O Governo Federal, orientou-se em doutrinas teístas de outros Estados Laicos
como os Estados Unidos da América (que já acrescentava a frase "In God We
Trust" em suas cédulas de dólares), para embasar a solicitação
presidencial. Assim, as primeiras notas com a inscrição circularam no Brasil em
20 de outubro de 1986, sendo de fato oficializada, por meio do voto CMN
nº166/86 – Sessão 468 do Conselho Monetário Nacional.
“O Conselho Monetário
Nacional aprova os modelos das notas de 10, 50 e 100 cruzados, com as mesmas características
básicas das cédulas de cruzeiros de valores equivalentes, e da nova cédula de
500 cruzados com a efígie do compositor Heitor Villa-Lobos. Todas as cédulas
trazem a legenda “Deus seja louvado”, consoante orientação da Presidência da
República.”
(Voto
CMN nº166/86 – Sessão 468)
Assim, a expressão
permaneceu em nossas cédulas de dinheiro por um longo tempo, até que as
primeiras cédulas do padrão Real foram estampadas sem a frase "Deus seja
louvado". Mas sabemos o quanto um ex-presidente pode ser influente em suas
atuações políticas, ainda mais desfrutando do cargo de Senador da República. Ao
saber que a frase que tanto prezava fora suprimida das cédulas do padrão Real,
as ações foram quase imediatas, pois as primeira séries emitidas pela força
tarefa da Casa da Moeda do Brasil e pelas emissoras estrangeiras Thomas De La
Rue and Company Limited, Giesecke & Devrient GmbH e a François-Charles
Oberthur Fiduciaire, foram impressas sem a frase e já entrariam em circulação
no dia 1º de julho de 1994, pois havia pressa em dar vida ao novo padrão
monetário nacional.
As ações de bastidores em
Brasília surtiram efeito, e um aviso foi enviado pelo Ministério da Fazenda,
assinado pelo então Ministro de Estado da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso,
ao Banco Central do Brasil, determinando a inclusão imediata da frase em todas
as cédulas do padrão Real. Em 8 de junho de 1994, o Banco Central do Brasil
apreciava o seguinte voto:
“A diretoria do Banco
Central do Brasil aprova a inclusão da expressão “Deus seja louvado”, nas
cédulas do padrão Real fabricadas pela Casa da Moeda do Brasil (estampa “A”),
atendendo solicitação do Sr. Ministro de Estado da Fazenda, objeto do aviso
nº395/MF, de 30-3-94.”
(Voto BCB nº221/94 –
Sessão 1577)
As cédulas emitidas já
não poderiam mais ser canceladas ou refeitas sem a frase, mas o aviso do
Ministério da Fazenda e o sequente voto do Banco Central do Brasil, sem contar
no forte lobby político voltado ao tema, garantiram que a frase fosse devolvia
as cédulas do padrão Real.
Apesar das recentes
discussões em torno da laicidade do estado e solicitações por setores laicistas
da sociedade civil de que a frase seja removida, ela continua a ser impressa
pela Casa da Moeda do Brasil, respaldada pelo Banco Central do Brasil. Na
última e recente tentativa de remoção da frase nas cédulas por parte do
Ministério Público, José Sarney voltou ao debate e afirmou: "Eu tenho pena
do homem que na face da terra não acredita em Deus".
A discussão e polêmica
em torno deste assunto certamente irão continuar ao longo dos anos. Devemos
respeitar o fato de alguém crer ou não em algo, mas a principal pergunta e
questão é... Será que a frase atende ao anseio do povo, ou teria sido um mero
capricho de um político? Claro que a pergunta é retórica e sarcástica, uma vez
que todas as respostas foram dadas neste artigo.
Sou adventista, tenho
minhas convicções, mas prego o respeito às crenças, credos e convicções de cada
individuo, com tal respeito, preservo amigos e garanto a boa convivência,
afastando a intolerância que persegue a raça humana desde seu primeiro dia
sobre a terra.
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Créditos
e observações:
- Esta
postagem foi escrita com base em documentos oficiais do Banco Central do
Brasil, votos e sessões deliberativas da instituição.
- Pesquisas
foram realizadas em catálogos do ramo e fontes do Governo Federal. Pesquisa
realizada pelo Historiador Bruno Diniz Celestino (B.CELESTINO).
- A
imagem que ilustra a postagem pertence ao acervo Diniz Numismática
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