Para muitos, esta foi
somente mais uma entre tantas notas de dinheiro que circularam no Brasil. Para
nós, esta cédula pulsa arte, transpira cultura e possui um altíssimo valor para
quem enxerga além dos ganhos financeiros. Eu sei que muitos irão ler somente as
primeiras linhas desta postagem e irão nos perguntar o valor da cédula, mas
estes não irão entender que o valor é cultural e isso não tem preço. Felizmente,
nosso objetivo não passa pela precificação de peças.
Esta cédula retrata um
pouco do legado de Cândido Portinari (1903 – 1962), ela possui o valor facial
de Cz$ 5.000,00 (cinco mil cruzados) e está entre as mais belas cédulas já
lançadas no Brasil.
Em suas obras, o
artista retratava com perfeição as questões sociais vividas pelo povo sem a
necessidade de desafiar o governo vigente de sua época. Portinari viveu em um
momento de efervescência do modernismo brasileiro, tendo como principal influência
o modernismo europeu, mas a influencia do velho continente não impediu o
artista de criar obras do cotidiano brasileiro, tornando sua temática e seus
trabalhos os mais expressivos na questão dos dilemas nacionais.
No anverso da cédula
podemos notar a efígie de Portinari, tendo à esquerda, gravura com o trecho
final do épico painel “Tiradentes” (3,15 x 18m), concluído em 1949. O fundo de
segurança reproduz composição de azulejos que, também de sua autoria, decora as
paredes externas do Palácio Gustavo Capanema (antiga sede do MEC), no Rio de
Janeiro. O registro coincidente entre anverso e reverso é feito com cavalo, os
mesmos elementos que faz parte da composição dos elementos de segurança.
Que o modernismo
inspirou Portinari, já comentamos por aqui, mas todo artista possui outros que
o influenciam diretamente, neste caso, o espanhol Zuloaga e os italianos do século XV,
sobretudo Piero della Francesca. Ao passar por Paris, foi extremamente
influenciado pela arte obra de Chagall. Portinari também se aventurou em outros
estilos, em 1931, fez uma exposição apresentando trabalhos influenciados pelo
movimento muralista mexicano, revelando uma tendência à simplificação. Essa
influência certamente elevou Portinari a um outro nível , fazendo de sua arte um
importante instrumento de denúncia social. O artista buscou inspiração nas mais
variadas temáticas que afligiam o povo brasileiro.
No reverso da cédula, à
esquerda, gravura baseada em foto que mostra Portinari desenhando o painel “Baianas” (1,98 x 1,48m), à direita outra
gravura lembra elementos do painel “Paz”, que evoca cenas da infância do
artista em Brodósqui – SP, sua cidade natal.
Nas várias pinturas de
Portinari, notamos a proximidade com o cubismo e o surrealismo, correntes artísticas
das vanguardas europeias, mas as influências diretas dos muralistas mexicanos,
especialmente, podem ser vistas em quase todos os painéis feitos pelo artista.
No entanto, Portinari não perdeu sua arte figurativa em representar o cotidiano
brasileiro e suas mazelas, um tom tradicional das obras de Portinari.
Hoje vocês puderam
observar a complexidade de elementos culturais em uma das mais belas cédulas
que já passaram pelas mãos dos brasileiros.
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