Alguns produtos já eram de alguma comercializado no Brasil durante o século 17, mas produto brasileiro mais conhecido e apreciado pelos comerciantes de escravos na África no século 17 era a cachaça. A água ardente era muito popular nos tempos de um Brasil ainda colonial. A popularidade da cachaça fez com que Portugal tentasse diversas vezes coibir sua produção e consumo, na tentativa de proteger o comércio de bebidas produzidas por elez (a bagaceira e o vinho são algumas delas) A proibição portuguesa estimulou ainda mais o tráfico da bebida e, quando Portugal retomou o controle de Angola, uma vez que o território estava sob domínio holandês, em 1650, a colônia africana passou a receber grandes remessas de cachaça todos os anos.
O historiador Luis Felipe de Alencastro, no clássico O Trato dos Viventes – Formação do Brasil no Atlântico Sul. Séculos XVI e XVII, afirma em seus escritos que, entre 1710 e 1830, um em cada quatro escravos trazidos da África foi trocado por cachaça em Luanda. Juntamente com o tabaco oriundo da Bahia, outro produto bastante utilizado no tráfico, quase 1 milhão de negros, que tiveram contato com a bebida, sendo usuários ou vítimas de negociações onde a moeda que os compravam era a cachaça. Alguns escravos tinham um contato mais íntimo com a bebida já nos porões dos navios que chegaram ao Brasil.
ÁGUA ARDENTE? - Os traficantes misturavam água do mar e pimenta na cachaça brasileira antes de chegar a Angola. Tudo para aumentar o volume da bebida que seria trocada por escravos.
OS SINÔNIMOS DESTA MOEDA - Como já observamos ao longo desta postagem, a cachaça está presente na cultura brasileira há séculos, e com o passar do tempo vem acumulando sinônimos como,
Suor de alambique, Quebra Munheca, Água que passarinho não bebe, Cangibrina, "Marvada" e muitos outros sinônimos que já viraram até mesmo música na voz de grandes intérpretes da música sertaneja nacional.
CURIOSIDADE - Nourélio, há 147 termos para a aguardente, enquanto no Houaiss são 420.
MADE IN BRASIL - Para estimular a exportação da bebida, um decreto foi editado em 2003, onde o texto determina que a “cachaça original” oriunda da aguardente de cana é um produto típico e produzido no Brasil. Muitos países também protegeram o que dizem ser suas bebidas típicas. A tequila, feita no México, também possui proteção de origem garantida.
NÃO ERA EXCLUSIVIDADE DA CACHAÇA! - Posso afirmar que o rum era a principal moeda dos traficantes de escravos nas Américas Central e do Norte. Abebida típica do Caribe (feita com o melaço da cana, enquanto a cachaça vem da garapa) tinha a mesma função comercial da cachaça, embora poucas pessoas saibam dessa utilidade do nosso destilado. Para Henrique Carneiro, historiador da Universidade de São Paulo e autor de Pequena Enciclopédia da História das Drogas e Bebidas, as poucas informações que existem a respeito “talvez ocorram porque a história oficial buscou ocultar muitos aspectos da escravidão, especialmente o uso de aguardente e tabaco na obtenção dos escravos”.
UM MODELO DE NEGÓCIO - É triste afirmar, mas os livros didáticos não contam, que o tráfico negreiro foi fortemente impulsionado pelas bebidas, e esse modelo de negócio ajudou na formação do sistema moderno de comércio mundial.
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