UMA LINHA IMAGINÁRIA CHEIA DE HISTÓRIAS - O tratado de Tordesilhas

Certamente, muitos amigos e viajantes nunca perceberam a placa da foto que ilustra minha postagem de hoje! Nem eu havia percebido... Até meu amigo Gilvan me mostrar (vivendo e aprendendo). Esta placa é alusiva a linha imaginaria do tratado de Tordesilhas, sendo fincada em chão goiano, mais precisamente no KM48 da BR-080 entre Edilândia e Cocalzinho, rumo a cidade de Pirenópolis justamente na rota do tratado de Tordesilhas. Para quem não lembra, logo após a chegada de Cristóvão Colombo à América em 1492, a corte espanhola começou a se preocupar em proteger legalmente as terras descobertas na América. O rei espanhol procurou o papa Alexandre VI, que através da Bula Inter Coetera estabeleceu a posse de todas as terras descobertas a 100 léguas a oeste de Cabo Verde à Espanha. Através deste documento, Portugal ficaria sem a possibilidade de ter a posse de territórios na recém-descoberta América. O limite estabelecido também dificultaria as navegações portuguesas no Oceano Atlântico.

Portugal, assim como a Espanha, era uma potência militar e econômica da época, para evitar conflitos, espanhóis e portugueses resolveram abrir negociações para o estabelecimento de um novo tratado. Este deveria contemplar os interesses de ambos os reinos no tocante a descoberta, exploração e colonização das “novas terras”. Surgiu então o tratado de Tordesilhas, após um acordo firmado em 4 de junho de 1494 entre Portugal e Espanha. O tratado ganhou este nome, por ter sido assinado na cidade espanhola de Tordesilhas. O acordo tinha como objetivo resolver os conflitos territoriais relacionados às terras descobertas no final do século XV. De acordo com o texto do Tratado de Tordesilhas, uma linha imaginária seria traçada a 370 léguas de Cabo Verde, servindo de referência para a divisão das terras entre Portugal e Espanha. As terras a oeste desta linha ficaram para a Espanha, enquanto as terras a leste eram de Portugal. Mas o chão goiano não seria marcado somente pela passagem de tal linha imaginária! Estava reservado para as terras de Goiás a expedição Anhanguera...

A expedição Anhanguera ocorreu por volta de 1722, pela suspeita da existência de riqueza mineral nessa região. Tal suspeita trouxe no início do século XVIII, as bandeiras, dando-se este nome às expedições financiadas pela Coroa Portuguesa, no Brasil colonial, a fim de expansão territorial, extração de minérios, captura de escravos e acúmulo de riquezas. Os membros dessas expedições eram conhecidos como bandeirantes. Esses bandeirantes da expedição Anhanguera, tinham a missão de desbravar o interior do nosso país, onde fundaram diversos arraiais na incansável busca pelo ouro em abundância, resultando no surgimento da antiga cidade de “Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meya Ponte”, hoje Pirenópolis. Corumbá de Goiás também surgiu naquela época e conservou o mesmo nome, mas uma cidade muito conhecida pelos moradores de Brasília também surgiu naquela época, e muitos desconhecem sua história! Chamada inicialmente de Fazenda Montes Claros, a atual Santo Antônio do Descoberto, não prosperou como Vila ou Povoado na época, em face da escassez de ouro, que era o objetivo maior na formação dos povoados, mas viria a ser e prosperar como referência espiritual onde até os dias atuais ocorrem romarias em louvor a Santo Antônio de Lisboa e outras práticas espirituais.
A expedição saiu de São Paulo liderada por Bartolomeu Bueno da Silva. Chegaram a terras desconhecidas e inóspitas, onde hoje é o estado de Goiás. Lá chegando, Bartolomeu se surpreendeu com índios cobertos por adereços feitos com ouro. O bandeirante indagou um indígena sobre a origem do ouro, mas os nativos não cederam. Diante do impasse provocado pelo silencio dos indígenas, Bartolomeu encheu uma bateia (instrumento para peneirar ouro) com álcool e ateou fogo. Mostrou aquele instrumento ardendo em fogo e disse aos índios que aquilo que queimava era sua água e que, se não entregassem a localização do ouro, iria incendiar toda a água presente na aldeia. Os nativos, assustados, entregaram a localização das minas e apelidaram Bartolomeu de “Anhanguera”, que em tupi quer dizer “Diabo Velho”. Antes de irem embora carregando o ouro, levaram algumas dezenas de indígenas como escravos e assassinaram outra centena deles. A historiografia elevou o nome de Bartolomeu a herói, mas existem controvérsias quanto à bravura de Anhanguera. Enquanto uns o defendem alegando que ele tenha sido o pioneiro do desenvolvimento goiano, outros o condenam por seus métodos brutais de desbravamento. Mas o fato é que ele recebeu o título de desbravador do sertão, sendo homenageado em ruas, praças, estradas e até batizando o nome de uma emissora de televisão no estado de Goiás. Seu filho, homônimo, voltou às terras goianas onde fundou o Arraial de Santana e, mais tarde, Vila Boa de Goiás.

A rota traçada pela linha imaginaria do tratado de Tordesilhas, também foi importante para se chegar até a Serra do Salitre localizada nas Minas Gerais, pois o salitre era utilizado na fabricação de pólvora. A pólvora era muito importante para o desenvolvimento e conquista de novas regiões. A pólvora negra, usada como propelente e explosivo, é uma mistura complexa de três ingredientes fundamentais, o salitre, ou nitrato de potássio, o enxofre e o carvão. Destes, o salitre sempre foi o componente mais difícil de obter, uma vez que sua ocorrência natural depende de condições que impeçam sua dissolução pela água, em que ele é altamente solúvel. Vários métodos de produção de salitre foram idealizados ou desenvolvidos ao longo do tempo, mesmo no Brasil colonial.
A linha imaginária do Tratado de Tordesilhas (1494-1750), como vimos nesta postagem, foi historicamente o Caminho de Anhanguera no século XVIII para desbravar o interior do país, logo depois foi utilizada por seu filho, também foi reconhecida e estabelecida como Estrada Colonial no Planalto Central, a mais extensa estrada do Brasil colônia oficializada em 1736 pelo rei de Portugal D. João V. Foi a rota perfeita na busca pelo Salitre usado na fabricação da pólvora, mas além de tudo isso ela também foi utilizada como referência pelos integrantes da Comissão Cruls, que chefiada pelo o astrônomo Luiz Cruls em 1892, veio demarcar o quadrilátero da futura capital federal, Brasília percorrendo a região e fazendo diversos estudos científicos... O resto da história? Vocês já sabem...


A MOEDA
Valor facial: 400 réis
Metal: cuproníquel
Diâmetro: 30 mm

Alegorias:
Mapa representativo do Tratado de Tordesilhas onde estabeleceu-se um meridiano situado a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, nas costas da África, sendo que as terras a oeste pertenceriam à Espanha, e as a leste seriam de Portugal. No reverso, a Cruz da Ordem de Cristo que adornava as velas das caravelas que exploravam os mares desconhecidos.

Esta moeda foi cunhada por ocasião do 4º. centenário da colonização do Brasil, em 1932, fazendo parte da série de moedas conhecida como “vicentinas”, tendo como marco a fundação da Vila de São Vicente, a atual cidade de São Vicente, estado de São Paulo, foi lançada uma série de 6 moedas com motivos relativos à época. São alusivas a colonização do Brasil, efetivamente ocorrida em 1532, somente 32 anos após o descobrimento do Brasil.

Confeccionadas em 1932 e assinadas por Calmon Barreto (sigla CB), a série foi apresentada nos valores de 100, 200 e 400 réis em cuproníquel, 500 e 1000 réis em bronze-alumínio e 2000 réis em prata. Esta série é considerada como sendo as primeiras moedas cunhadas no período Vargas.













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