Notgeld, um termo muitas vezes mencionado por mim em minhas postagens
e que de fato me fascina! Sempre temos
algo novo para adicionar aos nossos conhecimentos sobre estas fantásticas obras
de arte da cultura germânica. Para os amigos que não lembram, as notgelds foram
a saída encontrada para a falta de dinheiro corrente que existiu principalmente
nos países germânicos na Europa central (Alemanha e Áustria), durante e logo
após a Primeira Grande Guerra, ficando conhecida na sua abrangência pelo nome em
alemão Notgeld ou dinheiro de emergência.
VAMOS CONTEXTUALIZAR - Em 1914 a Europa estava abalada pelo início da guerra, nações inteiras
jogaram suas economias nas incertezas da guerra. O meio circulante mais comum
baseava-se em moedas metálicas, mas todos nós sabemos que o metal era algo valioso
em uma época em que as guerras eram disputadas com canhões e baionetas. Com a
falta de recursos minerais, muitos países da Europa central começaram a retirar
moedas de circulação para serem utilizadas na indústria bélica. A escassez de
moedas havia de ser compensada de alguma forma.
O DINHEIRO VIROU ARTE - A emissão de papel-moeda com valores menores era a resposta, porém o
grande problema era a dificuldade de centralizar-se a emissão, especialmente
pelo volume de cédulas que haveriam de ser emitidas. A concessão do direito de
emissão a municipalidades, institutos creditícios, governos locais (estados e
municípios) e empresas, para que estes emitissem e colocassem cédulas em
circulação, foi a saída viável. Surge então a expressão Notgeld, o dinheiro de
emergência, pela sua forma reduzida de apresentação, prazo de validade,
restrição geográfica de circulação e, inicialmente, valor reduzido. A
apresentação das cédulas era simples e comum, visando apenas suprir a demanda,
porém com o prolongamento do uso e as possibilidades de difusão e propagação
cultural, as cédulas tornaram-se mais elaboradas em padrões, formas e
materiais. A divulgação de histórias e acontecimentos locais, arquitetura e
paisagens, mitos e lendas, produtos e pessoas tornou-se comum, por causa de sua
grande circulação e podendo ainda conter todo um contexto sócio-cultural local,
que normalmente não é possível em material de circulação nacional. A quantidade
de cédulas emitidas chegou a volumes enormes. Entre 1914 e 1923 o Notgeld
esteve presente na Alemanha e Áustria, os maiores utilizadores deste recurso e
em países com economias satélites, como a Hungria e a Polônia, que também se
aproveitaram deste meio para suprir suas necessidades, porém em escala muito
menor. Liechtenstein deve as únicas três cédulas que emitiu aos Notgelder, pois
era totalmente dependente da economia Austríaca até então.
VARIAÇÕES - Sua classificação varia com relação à sua utilização. Com a guerra,
algumas das primeiras Notgelds ou Notgelder (plural de Notgeld em alemão) eram
chamados de Kriegsgeld ou dinheiro de guerra. Esses juntamente com outras
emissões, muitas sem denominação específica, eram conhecidos como Kleingeld,
dinheiro miúdo ou troco, pois seu valor raras vezes ultrapassou a unidade
monetária da época, sendo portanto quase sempre denominados em Pfennig ou
Heller, respectivamente a unidade centesimal do Marco (Mark) e da Coroa
(Krone), as moedas em circulação na Alemanha e Áustria, respectivamente.
Kleingeld - O prolongamento
da guerra trouxe a escassez de matéria-prima para a confecção das cédulas. O
papel tornou-se comum na maioria das cidades com grandes variedades de
interessantes cédulas, mas a utilização de materiais alternativos ampliou-se.
Tecidos, como linho e a seda de Bielefeld, madeira do Deutscher Handelshilfen Verband
(União Alemã de Auxílio ao Comércio) na Prússia e couro de Pößneck tornaram-se
comuns.
Grossgeld - Após a guerra
muita agitação, greves, rebeliões e tentativas de golpe geraram dificuldades.
As emissões de papel-moeda se intensificaram e o Reichsbank, o então banco
central alemão, sem condições de emitir cédulas suficientes, autorizou a emissão
de cédulas de valor mais alto para uso local. Com essas emissões de cédulas de
valor maior, houve a necessidade de se utilizar um padrão melhor de qualidade e
de beleza e materiais mais finamente acabados às cédulas, que se tornaram de
grande interesse para colecionadores até os dias de hoje. As cédulas de
porcelana da cidade de Meissen e de folhas de alumínio de Lautawerk são
excelentes exemplos.
O FIM DAS NOTGELDS - Sim, a economia reagiu! Com o fim da desordem deixada pela guerra e
das agitações sociais a Europa central começa a reerguer sua economia. O
resgate definitivo do Notgeld foi determinado ainda em 1923 e sua quitação estava
concluída dentro de um ano. Notgelder das localidades e instituições de toda a
Alemanha, Áustria e países vizinhos, cédulas de emergência antigas, como os
vales de controle de abastecimento e papel-moeda de territórios em conflito
ficaram, deixando suas expressões destes momentos difíceis e toda a sua cultura
acumulada.
Hoje estas peças são colecionáveis, culturalmente ricas e nos fazem
ter uma ideia de como aquele povo pensava a Europa durante e depois da primeira
grande guerra.
Referências:
BRESCIANI-TURRONI, CONTANTINO, - Economia da inflação; O fenômeno da
hiperinflação alemã nos anos 20. Rio de Janeiro : Expressão e Cultura , 1989
JAKSCH-PICK, - Katalog
des Österreichischen Notgeldes 1916 – 1921. Viena, 1976
Imagens:
Acervo Diniz Numismática - Bruno Diniz
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MOEDAS DO MUNDO