2000 RÉIS POLIGONAL 1937, VERDADEIRA OU FALSA? - A moeda de 2000 Réis de 1937 (Duque de Caxias) poligonal continua a levantar polêmica.













Algumas pessoas defendem que é verdadeira e outras de que a moeda poligonal de 1937 seria falsa. Para jogar mais lenha neste tão antigo debate, trago transcrito um texto de Eugenio Vergara Cafarelli que nos ajudará a queimar todas as lenhas disponíveis sobre este assunto. Quem não gosta de um bom mistério histórico?

Começamos nosso artigo com a Lei no. 128 de 6-12-1935 que autorizou as despesas de 50 mil contos de réis para que pudessem prosseguir com a cunhagem destas moedas auxiliares, dos quais 20 mil contos de réis foram destinados a cunhagem das moedas de bronze-alumínio. Segundo a lei todas as moedas de bronze-alumínio são serrilhadas e, entre elas, encontra-se uma do valor de 2000 réis (Duque de Caxias) com o peso de nove gramas (com uma tolerância de 0, 450 gramas) e com o diâmetro de 26,50 milímetros. O Decreto no. 565, de 31 de dezembro de 1935, além de confirmar o indicado na Lei no. 128 estabeleceu, no artigo 7º, as características de cada tipo de moeda e, no artigo 3º, indicou que a orla (bordo) das moedas de bronze-alumínio devia ser serrilhada.

Três anos depois considerando que as moedas de 2000 e de 1000 réis que circulavam na mesma época, por serem semelhantes tanto no tamanho como na serrilha, causavam grande confusão no comércio, e por faltar ainda a cunhagem de quatro milhões de moedas de 2000 réis, o Decreto-Lei no. 695, de 15 de setembro de 1938, determinou que a orla (bordo) da moeda de 2000 reis devia ser poligonal regular, de 24 lados ou faces lisas.
Podemos perceber que a moeda de 1937 de 2000 reis, pela lei, só existe com bordo serrilhado, mas alguns catálogos citam estas moedas com o bordo poligonal datadas de 1937 sem o devido esclarecimento se são verdadeiras ou falsas.
Trago algumas referencias de publicações que catalogam esta peça sem definir sua originalidade:

- Catalogo J Vinicius de moedas do Brasil de 1643 a 1974, 1ª. Edição 1974, de José Vinicius Vieira do Amaral, na página 226 sob o número 163 A.
- Livro das moedas do Brasil edições 4ª, 5ª, 6ª e 7ª, (1984, 1986, 1987 e 1990) de Arnaldo Russo sob o número 163 A.
- Catalogo Numismático Vieira edição 1990, na página 108 sob o número 17 A.
Standard Catalog of World Coins – Deluxe ANA Centenial Edition, volume I, pg 323, no. 542.” 

Cafarelli ainda nos oferece mais explicações:













Medindo o diâmetro das moedas de 1937 com bordo serrilhado, e de 1938 com bordo tanto serrilhado quanto poligonal, observamos que elas tem exatamente 26,40; 26,45 e 26,31 milímetros respectivamente, enquanto a moeda de 1937, com bordo poligonal, é bem menor, pois tem o diâmetro de apenas 25,98 milímetros. Pesadas em uma balança de precisão (eletrônica), constatamos que os pesos das moedas de 1937, com bordo serrilhado, e de 1938, com bordo poligonal e serrilhado, são respectivamente de 9,00; 8,81 e 9,10 gramas. É de se observar que nas duas moedas de 1938, serrilhada e poligonal, a diferença de peso é certamente determinada pela tolerância no peso dos discos. No entanto o peso da moeda de 1937 de bordo poligonal é de apenas 8,41 gramas, notando-se uma diferença de peso muito acentuada das demais. Além do peso, na moeda de 1937 poligonal existe outra acentuada diferença na sua orla. O espaço que se encontra entre o círculo de pérolas e a orla ficou muito reduzido em relação às outras moedas. Além disso, examinando os traços que formam o polígono da moeda de 1937, notamos que, embora sejam de 24 faces, estes são de medidas irregulares, em desacordo com o Decreto Lei no. 695. Além disso, a espessura da moeda poligonal de 1937 é de 2,27 milímetros. Tal medida é bem menor que a das moedas de 1936, 1937 e 1938 com bordo serrilhado e de 1938 com bordo poligonal, que é respectivamente de 2,36; 2,33; 2,36 e 2,33 milímetros.

Fica claro, portanto que para se eliminar a serrilha, a moeda foi desgastada em seu bordo, assim diminuindo o espaço entre a orla e as pérolas e consequentemente a espessura da moeda, que originariamente tinha a sua orla em relevo, o que explica também as diferenças de peso e de diâmetro mencionadas anteriormente.

Tivemos oportunidade de examinar moedas de 1937 com bordo poligonal, e numa delas aparecia claramente parte da serrilha não totalmente eliminada. “Certo é que o bordo poligonal, nas moedas de 1937, foi feito de modo abusivo, com aparelho precário ou mesmo manualmente.”

Portanto o bordo poligonal nas moedas de 1937 foi feito, sem dúvida, posteriormente sobre moedas que haviam sido cunhadas originariamente com serrilha.

A conclusão de Cafarelli

Cafarelli conclui, que as moedas poligonais de 1937 foram todas adulteradas em seu bordo. Estas são as palavras e a definição conclusiva do autor Eugênio Vergara Cafarelli, a qual podemos encontrar em seu livro “As moedas do Brasil desde o Reino Unido: 1818-1992.”

Outras teorias

Assim como nas moedas, a história também possui outros lados. Alguns apelam para a tradição imperial de nossa desorganização como estado, alegando que houve trocas de discos na época. Apesar de todas as leis, decretos, normas e instruções burocráticas que regiam o tema.

Assim como ocorreu o erro com a moeda de cinco centavos de Real, batida no disco de cinquenta centavos de Real, em pouco mais de 40 mil peças. Alguns estudiosos alegam que ao final da cunhagem das moedas de 1937, que deveriam ser com o disco serrilhado, alguns discos poligonais que eram para as moedas de 1938 foram parar entre os cunhos de 37, sendo batidas por engano, erro ou até mesmo como uma “prova” do novo cunho, como defendem alguns numismatas. O fato é que são muito poucas as moedas verdadeiras. E por sua vez em discos serrilhados, provavelmente para aproveitamento dos existentes ou sobras de 1937, foram cunhadas moedas com a data de 1938. Estas já em um número bem maior que as “trocadas” anteriormente. Desta forma são relativamente escassas as moedas 1938 com serrilha e raras as 1937 poligonais. De acordo com os que defendem a originalidade destas moedas.

Opinião pessoal














Se é verdadeira ou não, ainda iremos ter muitos debates em relação a esta moeda que muitas vezes é esquecida, assim como muitas outras peças importantes da numismática brasileira. Eu em minha particularidade creio que ainda temos muito chão para percorrer até de fato bater o martelo e afirmar se é ou não uma peça verdadeira ou falsa. Creio que o universo da numismática tenha uma preocupação mais urgente, pois como tudo que é raro chama atenção, iremos encontrar pessoas de índole duvidosa que irão tentar e de fato enganar alguns colecionadores com peças de fato falsificadas. Sendo assim, só posso deixar uma orientação para todos os amigos numismatas, colecionadores ou entusiastas. Tomem cuidado com as moedas poligonais de 37, pesem cada uma delas, seja criterioso ao encontrar uma destas peças, meça e compare com uma peça comum com serrilha. Se tiver sido objeto de adulteração, será relativamente fácil constatar uma possível fraude. Certamente este assunto nunca terá fim, pois existem várias posições e teses sobre este tema, mas além do exposto, a serventia maior deste artigo é o aviso sobre os cuidados que se deve ter em adquirir tal peça para o seu acervo. 


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