Foi uma revolta social ocorrida
no Império do Brasil, na então província do Grão-Pará, que abrangia os atuais
estados do Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia. Esta revolta se estendeu
de janeiro de 1835 até 1840, durante o período regencial brasileiro, comandada
por Félix Clemente Malcher, Antônio
Vinagre, Francisco Pedro Vinagre, Eduardo Angelim e Vicente Ferreira de Paula.
Na época a província vivia em um estado de extrema pobreza, a fome e muitas
doenças assolavam a população local, com isto a população estava às voltas de
desencadear um conflito. Quando finalmente o conflito ocorreu, os motivos
alegados foram à irrelevância política à qual a província foi relegada após a
Independência do Brasil, eles alegavam que a província ainda era parte da
colônia portuguesa e que não teria sido alcançada pelos atos da independência
como deveria. Eles se sentiam isolados do restante do país e das politicas
praticadas pela regência de Dom Pedro I. Os índios e mestiços, na maioria, e
integrantes da classe média (cabanos - morava em cabanas de barro de onde se
originou o nome da revolta) e até os grandes fazendeiros de toda região
uniram-se contra o governo regencial nesta revolta.
Havia uma mobilização da
província do Grão-Pará para expulsar forças reacionárias que desejavam manter a
região como colônia portuguesa. Muitos líderes locais da elite fazendeira,
ressentidos pela falta de participação política nas decisões do governo
brasileiro centralizador, também contribuíam com o clima de insatisfação após a
instalação do governo provincial.
Atos do conflito
Em 6 de janeiro de 1835 quando o
quartel e o palácio do governo de Belém foram tomados por índios tapuias,
cabanos e negros, liderados por Antônio Vinagre. O então presidente da
província foi assassinado e instituiu-se um novo presidente, Clemente Malcher;
a tomada de poder promoveu uma apoderação de material bélico por parte dos
grupos revolucionários. Malcher, no entanto, mais identificado com as classes
dominantes, foi rapidamente deposto. Sucedeu-se um conflito entre as suas
tropas e as do líder dos cabanos, Eduardo Angelim, tendo estas saído
vitoriosas. O frágil e instável controle cabano do Grão-Pará durou cerca de dez
meses.
O império, então, unilateralmente
nomeou um novo presidente para a província, o barão de Caçapava, frente a essa
afronta, e bombardeou impiedosamente Belém. A deposição dos cabanos do poder
foi rápida, porém, como muitos deles, mesmo fora do poder, continuaram a lutar,
o império usou de seu poderio militar para sufocar a revolta e, até 1840,
promoveu um extermínio em massa da população paraense. Estima-se que cerca de
30 a 40% da população de cem mil habitantes do Grão-Pará tenha morrido no
conflito.
As moedas cabanas
Todas as moedas cabanas possuem
um carimbo unifacial de fundo liso sem orla de contorno, marcado pelo Governo
Revolucionário do Pará entre (1835 a 1840), nas moedas de cobre para redução de
seu valor facial. As moedas carimbadas pela revolução não tinham a autorização
legal da regência para circular.
Na ilustração da postagem, trago
uma moeda carimbada com o carimbo cabano. Ela é uma moeda de 20 Réis que teve
seu valor reduzido para 10 Réis durante a revolta.
Curiosidades
– O nome da revolta veio de uma
característica comum entre os rebeldes. Muito pobres e explorados na economia
extrativista da região, eles moravam em cabanas simples de barro, cobertas de
palha. Daí veio o nome Cabanagem.
– O primeiro ataque da revolta
ocorreu no dia 6 de janeiro de 1835. Era noite de festa de Reis no Brasil
Império e o povo de Belém festejava ao luar. Autoridades portuguesas e famílias
poderosas brindavam na noite de gala do Teatro da Providência.
– À saída do teatro, o presidente
da província, Bernardo Lobo de Souza, foi para a casa da amante. Demorou a
perceber o caos na cidade. Esgueirando-se pelos quintais, de casa em casa,
conseguiu ficar escondido até o início do outro dia. Quando saiu à rua, foi morto
à bala por um índio tapuio.
– Dentre os grupos de revoltosos
paraenses, estavam comerciantes, fazendeiros e intelectuais apartados das
decisões na província, indígenas, negros escravos e libertos, mamelucos,
cafuzos, mulatos e mestiços. A diversidade étnica dos revoltosos era tamanha que surpreendeu os soldados aliados à
Regência.
– Há quem compare a tomada do
palácio do governo pelos cabanos à Queda da Bastilha, marco da Revolução
Francesa, em 1789. Era grande a presença de estrangeiros na região, inclusive
franceses. A França costumava exilar prisioneiros na vizinha Guiana Francesa e
alguns desciam até o Pará.
– Intrigas e traições entre os
líderes cabanos causaram tanto prejuízo quanto as tropas inimigas. O primeiro
presidente indicado, Félix Malcher, simpático ao Império, foi chamado de
traidor e assassinado em meio à disputa de poder com o comandante de armas,
Antônio Vinagre.
– Ao todo, três líderes rebeldes
presidiram a província do Pará. Já na primeira gestão, uma moeda antiga passou
a ser reutilizada e só valia no estado. Cabanos se apropriaram de casas de
famílias portuguesas ou ligadas ao antigo regime. O porte de armas entre eles
foi legalizado.
– A situação de Belém foi se
tornando deplorável. Destruída pelos combates, enfrentou epidemias de varíola,
cólera e beribéri. A população passava fome. O primeiro contra-ataque do
governo provocou a fuga dos cabanos para o interior. A ofensiva teve a ajuda do
presidente Francisco Vinagre.
– O último presidente cabano,
Eduardo Angelim, foi derrotado pela poderosa esquadra do brigadeiro Francisco
José Soares de Andrea. A caça aos cabanos pela Amazônia prosseguiu até 1840.
Mais de 30 mil rebeldes foram executados, um terço dos habitantes da província.
A tortura era comum.
– No fim da revolta, Belém só
tinha, praticamente, mulheres, crianças e idosos. Muitas mulheres foram
atacadas e violentadas, do lado cabano e das famílias ligadas à Regência. Parte
do trabalho de troca de informações e suprimento de comida para os cabanos era
feita por mulheres.
Referências:
- CHIAVENATO, Júlio José. Cabanagem, o povo no poder. São Paulo:
Brasiliense, 1984.
- CHIAVENATO, Júlio José. As lutas do povo brasileiro. São Paulo:
Moderna, 1988.
- CHIAVENATO, Júlio José. As lutas do povoado contra os elites. são
paulo: moderno, 1989
- REIS, Marcos. Cabanos, a História. Belém: Maguen, 2011.
- RODRIGUES, Denise Simões. Revolução cabana e construção da
identidade amazônida. Belém: EDUEPA: 2009.
- MOREIRA, Flávio Guy da Silva. Pródromos da Cabanagem - geografia e
capítulos da história do Grão-Pará. Belém: Paka-tatu, 2012.