O Sistema Monetário Colonial do Brasil mantinha uma clássica
ordem de valores baseados nas dezenas, com seus valores dobrados a cada nível
acima de moeda cunhada, portanto com valores de 10, 20, 40, 80, 160, 320, 640 e
960 réis; o que em grande parte minimizava a problemática do troco. No entanto,
a província de Minas Gerais produziu um problema tão grave de troco, no início
da segunda década do século XIX, que afetou diretamente os interesses da
metrópole e exigiu medidas drásticas para evitar grandes perdas ao cofre
português.
O problema constituía na grande quantidade de ouro de
aluvião que era retirado da região. Este ouro, encontrado aflorando à
superfície, na forma de pequenos grãos, era garimpado em bateias e
comercializado, muitas vezes ainda bruto. Era o chamado ouro em pó. O peso do
ouro era medido em onças e uma unidade muito corrente era a oitava, que
constituía a oitava parte da onça, o que corresponde a 3,585 g, também
conhecido como dracma. As dificuldades surgiam no momento da comercialização,
pois para frações maiores sempre podia encontrar-se troco, mas à medida que
estas frações decresciam, a falta de troco acabava por beneficiar os
faisqueiros com prejuízo do Reino.
Uma oitava de ouro correspondia a 1200 réis (já descontado o
Quinto), o que se podia obter com duas moedas de 640 réis e recebendo-se de
troco um cobre de 80 réis; meia (1/2) oitava de ouro (600 réis) por uma moeda
de 640 réis e um troco de 40 réis; um quarto (1/4) de oitava de ouro (300 réis)
por uma moeda de 320 réis e recebendo-se um troco de 20 réis. O problema
começava com um dezesseis avos (1/16) de oitava de ouro (75 réis) que podia se
pagar 80 réis e receber 5 de troco, no entanto, desde 1799 não se cunhavam
estas moedas, as última foram cunhadas, neste ano, em Lisboa e em pequena
quantidade; acresce que o Alvará de 8 de abril de 1809 determinou que o carimbo
de Escudete fosse aplicado nas moedas anteriores a 1799, duplicando-lhes o
valor; desta forma grande parte das moedas de 5 réis cunhadas em 1786, 1787,
1790 e 1791 passaram a valer 10 réis.
Este ainda não era o maior problema, segundo o historiador
Rocha Pombo, o mais normal era se comercializar o metal do fundo de uma bateia,
ao final de um dia de trabalho, correspondendo a dois vinténs (um dezesseis
avos de oitava). O vintém, como unidade de massa, fazia parte do antigo sistema
de unidades portuguesas, e correspondia a um trinta e dois avos de oitava ou
0,112g. Melhorando-se estas contas, vemos que se uma oitava (3,585g)
correspondia a 1200 réis, então a trigésima segunda parte de uma oitava (o
vintém) correspondia a exatos 37,5 réis.
A impossibilidade dos faisqueiros de dar troco de 5 réis
para uma moeda de 80 réis (o preço da baiteia com seus 2 vinténs de ouro
custava 75 réis) permitia que na prática eles embolsassem esses 5 réis, era como
elevar o preço para 80 réis. Este último caso representava uma perda para a
coroa de 6,67% no momento da compra do ouro; isto multiplicado por milhares de
operações realizadas mensalmente representava uma perda de muitas onças.
Para resolver o problema, em 1818, a Casa da Moeda do Rio de
Janeiro, desativada desde 1734, foi reaberta para cunhar uma das moedas mais
intrigantes da história da numismática mundial, o Vintém de Ouro. O nome sugere
uma moeda de vinte réis cunhada em ouro, no entanto é uma moeda de cobre que
tem no seu anverso o valor de 37 ½ réis, batida no Rio de Janeiro para circular
em Minas Gerais. Também neste ano a Casa da Moeda de Minas Gerais, que estava
em funcionamento desde 1810, começou a produzir o vintém de Ouro, batendo
moedas de 1818 a 1821 e de 1823 a 1828. Entre 1818 e 1821, a Casa da Moeda de
Minas Gerais bateu as moedas de 75 réis, dois Vinténs de Ouro. E, ainda, a Casa
da Moeda de Goiás também bateu moedas de 75 réis em 1823.
Em conclusão, a moeda chamada de "Vintém de Ouro"
nada mais era que uma moeda de cobre, com valor de face de 37,5 réis, que era o
valor exato de um vintém de ouro (0,112 gramas de ouro). Que foi cunhada para
que duas delas totalizassem os 75 réis necessários para pagar os faisqueiros e
eliminar o prejuízo da coroa portuguesa.