A Batalha do Jenipapo
Quando Dom Pedro I, às margens do Ipiranga, deu o grito de
independência, não houve derramamento de sangue. Foi no Piauí, às margens do
Rio Jenipapo, na cidade de Campo Maior, que os portugueses perderam a esperança
de ter uma colônia na América, sendo afastados definitivamente das terras
brasileiras. A Batalha do Jenipapo, luta e glória do povo piauiense, assegurou
a unidade territorial do Brasil.
NÃO CONSTA NOS LIVROS DE HISTÓRIA
Ocorreu às margens do riacho de mesmo
nome no dia 13 de março de 1823, a qual foi decisiva para a Independência do
Brasil e consolidação do território nacional. Consistiu na luta de piauienses,
maranhenses e cearenses contra as tropas do Major João José da Cunha Fidié, que
era o comandante das tropas portuguesas, encarregadas de manter o norte da
ex-colônia fiel à Coroa Portuguesa. Os brasileiros lutaram com instrumentos
simples, não com armas de guerra, não tinham experiência. Perderam a batalha,
mas fizeram com que a tropa desviasse seu destino. Foi uma das mais marcantes e
sangrentas Batalhas travadas na guerra da independência do Brasil.
A data não consta nos livros de História e
poucos sabem do ocorrido, mesmo no Piauí, onde ocorreu a batalha. Contudo, após
alguns movimentos por parte de historiadores e da população, a data
foi acrescida à bandeira do Piauí e está em curso a implantação do estudo da
Batalha do Jenipapo na disciplina de História. Durante as comemorações e
reflexões do dia 13 de março o município de Campo Maior faz a entrega da Medalha
do Mérito Heróis do Jenipapo e o(a) Governador(a) do Piauí, a Ordem do Mérito
Renascença do Piauí, oportunidade em que o mesmo usa a faixa governamental.
VAMOS ENTENDER UM POUCO MAIS
I. D. João VI, ao retornar a Portugal em 1821, reconheceu
que a Independência do Brasil era impossível de conter-se. Desejava preservar o
norte do país, reunido, como colônia portuguesa, Pará, Maranhão e Piauí. Este,
de grande riqueza em gado bovino, poderia cortar o suprimento de carne a outras
regiões brasileiras, inclusive ao sul. Para o comando das armas em Oeiras,
então Capital do Piauí, o rei nomeou o militar português João José da Cunha
Fidié, empossado a 9 de agosto de 1822.
II. A 7 de setembro de 1822, às margens do Ipiranga, o
Príncipe Regente D. Pedro proclama a Independência do Brasil. Em Parnaíba, um
grupo de patriotas, à frente dos quais João Candido de Deus e Silva e Simplício
Dias da Silva, declara sua adesão à causa da Independência e aclama Imperador o
Príncipe D. Pedro a 19 de outubro de 1822. Com o objetivo de sufocar o levante,
Fidié marcha para Parnaíba, cerca de 700 quilômetros distante, com tropas de
linha, lá chegando em 18 de dezembro de 1822. Encontrou a vila guardada pelo
brigue Infante Dom Miguel, vindo do Maranhão, com tropa e armamento em seu
auxílio. Os chefes da revolta refugiaram-se em Granja no Ceará.
III. Em Oeiras, a 24 de janeiro de 1823, Manuel de Sousa
Martins, futuro Visconde da Parnaíba, proclama a Independência e assume a
presidência da Junta do Governo do Piauí. Ao receber, a 28 de fevereiro de
1823, a notícia dos sucessos na Capital, Fidié delibera regressar, no comando
de mais de 1100 homens, bem armadas. Disponha de 11 peças de artilharia e o seu
exército se aumentara de contingentes do brigue Infante Dom Miguel e da
guarnição de Carnaubeiras, no Maranhão. Alimentava o propósito de castigar os
revolucionários de Oeiras.
IV. Na viagem de volta, o militar português, sabendo que o
centro das forças nacionalistas estava em Campo Maior, que aderira à
Independência a 2 de fevereiro de 1823, para aqui segui em macha forçada. Na
vila, o capitão Luís Rodrigues Chaves convocou os piauienses, mais de mil, a
que se juntaram 500 cearenses, uns e outros mal armados de foices, espadas,
chucos, facões e velhas espingardas de caça. Fidié desconhecia o número das
forças inimigas, entretanto não ignorava que tinha de enfrentar matutos sem
disciplina nem instruções militar, mas dispostos a morrer pela causa da
Independência.
Diz Abdias Neves: "E só a loucura patriótica explica a
cegueira desses homens que iam partir ao encontro de Fidié quase
desarmados."
V. O mato à, margens do rio Jenipapo se compõe de vegetação
baixa. O caminho dos patriotas se bifurcava. O comandante João da Costa Alecrim
e seus comandados tomaram à direita e pela esquerda seguiram o comandante Luís
Rodrigues Chaves e os seus soldados. Era 13 de março de 1823, às 9 horas. O
primeiro encontro foi fortemente repelido pelos patriotas, mas Fidié atravessou
o Jenipapo, escolheu posição, dispôs os seus homens. logo se alvejaram os
brasileiros por peças de artilharia. O recurso estava em atacar os portugueses
ao mesmo tempo de todos os lados e separá-los. Houve tentativa, rechaçada.
Outros ataques se deram, com grandes perdas de vidas. A fuzilaria inimiga
arrasava o campo. O combate durou até as 2 horas da tarde. Algumas fontes afirmam
que houve 200 brasileiros entre mortos e feridos. Outras registram 4003 .
Major Fidié: o comandante das tropas portuguesas
VI. Fidié conquistou vitória aparente. Perdeu parte de sua
bagagem de guerra. Acampou a um quilômetro de Campo Maior, na fazenda Tombador.
Poucos dias depois, partiu no rumo do Estanhado, hoje União, e daí passou a
aquartelar-se em Caxias, no Maranhão, onde piauienses e cearenses o cercaram e
fizeram que ele se rendesse a 31 de julho de 1823. Assim se fez a Independência
em terras piauienses4 . Aqui foi preservada a unidade nacional. Escreve João
Cândido de Deus e Silva: "As próprias mulheres não ficavam indiferentes:
mandavam os maridos, os filhos, os irmãos para a guerra e a fim de que levassem
munições e armas vendiam as jóias, se mais nada tinham a vender. A mulher
piauiense mostrou, nessa ocasião, a grande fortaleza, o ânimo varonil de
lendárias heroínas. Foi inexcedível de amor pelo triunfo completo da
Independência - que abraçara, desde as primeiras proclamações."
VII. Glória aos vaqueiros e roceiros humildes, que lutaram
sob o comando dos bravos Luís Rodrigues Chaves, João da Costa Alecrim,
Francisco Inácio da Costa, Salvador Cardoso de Oliveira, Alexandre Nery Pereira
Nereu, Pedro Francisco Martins, Simplício José da Silva e José Pereira
Filgueiras. Eles permaneceram durante muitos anos no esquecimento. Apenas
algumas toscas pedras marcavam o lugar das sepulturas com restos desses
valentes, mortos sem que deixassem à posteridade ao menos os modestos nomes. A
gratidão dos piauienses, porém, um dia se positivou neste Monumento do
Jenipapo, na campina formosa - o lugar mais sagrado da história.
O CONFRONTO
A população de Campo Maior, ao saber que Fidié vinha de
Parnaíba com destino a Oeiras e passaria ali, se mobilizou com intuito de
impedi-lo de continuar viagem.
Na noite de 12 de março, os homens da cidade e das
redondezas foram arregimentados. Todos queriam lutar para livrar o Piauí do
domínio português. As mulheres estimularam os seus maridos, parentes e amigos,
arrumaram o que puderam, venderam suas jóias; todos estavam empenhados a se
unirem em só ideal: lutar.
O amanhecer do dia 13 de março de 1823 prenunciava um dia
claro, com poucas nuvens e muito calor. Era um ano em que a seca castigava a
nordestino.
Ao sinal de comando, todos os homens se reuniram em frente à
Igreja de Santo Antônio. Os combatentes piauienses e cearenses não vestiam
fardas. Na saída da cidade, para encontrar-se com Fidié, houve uma apresentação
com a banda de música na qual houve um desfile militar. A massa de combatentes
que iam lutar pelo Brasil saiu exultante ao som dos tambores. Mesmo sem
acertarem os passos eles levavam consigo a chama da liberdade queimando no
peito. A certeza da morte não tirou o ânimo dos que iam morrer pela pátria.
Cerca de dois mil homens marcharam para o combate. As armas que eles usaram
foram espadas velhas, chuços, machados, facas e foices, paus e pedras e algumas
espingardas usadas.
Sem nenhuma experiência em guerras, os piauienses chegaram
às margens do Rio Jenipapo , de onde pretendiam impedir a passagem de Fidié.
Como o riacho estava quase seco, a maioria dos patriotas ocultou-se no próprio
leito do riacho, enquanto a outra parte se escondeu nas moitas de mato ralo
perto da ribanceira. E ficaram esperando o exercito português, que, com
certeza, tinha de passar por ali. De onde estavam dava para ver quando os
portugueses se aproximassem do palco da luta porque o terreno era bem plano,
com várzeas imensas, abertas sem amparo algum.O povo com espírito de tornar-se
independente estava entrincheirado e sabiam que à frente deles havia uma
estrada que se dividia em duas, uma pela direita e outra pela esquerda. Só que
estavam em dúvidas em qual dos caminhos vinha Fidié. Logo após às oito horas, o
capitão Rodrigues Chaves mandou uma patrulha sondar o lugar onde seria travada
a batalha. Fidié ao chegar no local onde a estrada se dividia resolveu mandar
uma metade do exercito por um lado e outra metade pelo outro lado. Ele foi
junto com uma das metades pela esquerda e a cavalaria foi pela direita. Os
independentes, sem saber da divisão que Fidié tinha feito no seu contigente,
foram pela estrada da direita encontrando-se com a cavalaria portuguesa, sendo
surpreendidos. Os mesmos avançaram bravamente contra a cavalaria. Os
portugueses espantaram-se com a coragem e com a bravura dos piauienses, onde
eles acabaram recuando. Neste momento os piauienses perseguiram os portugueses
estrada adentro.
Os combatentes piauienses, ouvindo o tiroteio, acharam que o
confronto havia começado. Saíram das trincheiras na qual utilizavam como posição
defensiva e precitadamente foram pela estrada da direita atrás do inimigo, só
que as tropas portuguesas não se encontravam mais ali.
Fidié ao saber do ocorrido atravessou o rio Jenipapo pela
estrada da esquerda, construiu de forma apressada umas barricadas, distribuiu o
armamento pesado, organizou os atiradores em posição de frente de combate (em
linha) nas trincheiras onde antes estavam os piauienses e esperou que eles
voltassem para lá. Antes os piauienses estavam em posição favorável agora tudo
se reverteu.
Quando os piauienses viram a situação adversa só encontraram
uma alternativa, atacar Fidié ao mesmo tempo e em todas as direções ao longo
das margens do rio. No primeiro instante do combate houve muitas baixas por
parte dos piauienses. Dezenas de corpos caíram pelas balas do exercito
português. Os poucos que conseguiram atravessar a linha de fogo deram o último
suspiro à boca dos canhões, com grande destemor não temendo nada contra a vida
e sim pela pátria em tremenda representação de amor pela mesma. Com essa
demonstração de amor pela pátria e de bravura que os piauienses tinham, fez com
que os portugueses ficassem assustados, devido eles nunca terem visto tanta
audácia em nenhum lugar do mundo.
Os sucessivos ataques dos piauienses tinha como resultado
muitos mortos pelo chão. A fuzilaria e os tiros de canhão dos portugueses
varriam o campo de luta de um lado para o outro. Os que conseguiam passar pelo
bloqueio de fogo conseguiam lutar corpo a corpo com os portugueses.
No meio-dia, os piauienses estavam cansados e certos de que
não venceriam os portugueses, neste momento já não lutavam mais se rastejavam
ao encontro com a morte.
Às duas horas da tarde, depois de cinco horas de combate, os
libertadores retiraram-se em desordem, deixando 542 prisioneiros, 200 mortos e
feridos, Fidié, que cujas perdas foram estimadas em 116 mortos e 60 feridos,
estacionou na fazenda Tombador, à cerca de um quilômetro de Campo Maior. Fidié
e seu exército caiam de cansaço. O sol
escaldante e o medo da valentia dos piauienses não
permitiram que as tropas portuguesas os perseguissem, mesmo sabendo que já
tinham derrotado a eles. Os cearenses do Capitão Nereu na hora da retirada
levaram a maior parte da bagagem dos portugueses, composta de comida, água,
algumas armas e até mesmo um pequeno tesouro que Fidié trazia do saque que
havia feito na cidade de Parnaíba.
Fidié passou dois dias na cidade de Campo Maior enterrando
os seus mortos. No dia 16 de março de 1823, saiu da cidade indo para o
Estanhado.
Meses depois Fidié foi preso em Caxias, no Maranhão, por
tropas vindas da região do Cariri Cearense e comandadas pelo capitão-mor do
Crato-CE José Pereira Filgueiras e por Tristão Alencar Araripe, de lá levado
para Oeiras de onde foi mandado para o Rio de Janeiro. Do Rio ele foi mandado
de volta para Portugal, onde foi recebido com honras militares pelos serviços
prestados à Coroa Portuguesa. Entre os títulos recebeu o de comendador da Ordem
de Avis, a mais antiga condecoração militar portuguesa, fundada por Afonso
Henriques em 1162. Só recebia essa comenda o soldado que demonstrasse extrema
valentia, ousadia e coragem. No local onde houve a Batalha foi erguido um
Monumento em memória aos piauienses que ali morreram pela independência de
nosso país. Situado à margem esquerda do rio é, na verdade, um grande atrativo
turístico e no local também se encontra uma parte do acervo bélico usado pelos
combatentes. Essas peças pertenciam ao antigo Museu do Couro que para lá foi
transferido.
ALGUMAS MOEDAS CIRCULANTES EM 1823
Fonte: wikipedia
Imagens: google