Empresa traz ao Brasil investimento em selos raros; rendimento chega a 10% ao ano


A reprodução em série de um perfil da jovem rainha Vitória, em 1840, no Reino Unido, pela módica quantia de um centavo deu início ao que hoje se tornou um mercado que movimenta a cada ano US$ 10 bilhões: a compra e venda de selos. Se o lançamento do Penny Black com a imagem da monarca britânica tinha o objetivo de baratear o custo da correspondência para os trabalhadores — com valores que podiam exceder ao de um dia de trabalho —, hoje a filatelia atrai mais do que aficionados e já chama a atenção de quem busca uma nova opção para diversificar investimentos.
É de olho neste filão que a Stanley Gibbons, gigante do setor, fundada em Londres em 1856 e que se dedica a comercializar e custodiar moedas e selos raros, decidiu abrir uma representação comercial no Rio de Janeiro. Com a tarefa de transformar colecionadores em investidores, a empresa quer se tornar uma alternativa para escritórios de gestão de fortunas e bancos e vê espaço para conquistar até dez mil clientes no país. Mas o investimento que atrai colecionadores célebres como a rainha Elizabeth II e Bill Gross, sócio da Pimco, uma das maiores gestoras de recursos do mundo, tem características singulares e avaliações de preço repletas de controvérsia. Nesse mercado, a combinação de preservação centenária e erro de impressão costuma ser sinônimo de itens raros de valor estratosférico. É o caso do Treskilling Yellow, de 1854, famoso pelo erro de coloração. A estampa deveria ser verde como a dos demais selos suecos de mesmo valor, mas se tornou o único exemplar disponível em amarelo. Um investidor anônimo arrematou o selo “customizado” pela bagatela de US$ 2,1 milhões.

Valorização de 7,8%
Não é um caso isolado. Um selo de rosas com um erro incomum e apenas três exemplares conhecidos no mundo — dos quais dois pertencem à coleção da rainha Elizabeth II — está avaliado em R$ 414 mil. Nessa área, a valorização costuma ocorrer em “degraus”. De acordo com a Stanley Gibbons, um selo pode ter uma cotação estável durante anos e dar um salto quando ocorre o leilão de uma peça semelhante. O índice da empresa com 30 selos raros, o GB 30, evidencia a valorização: no fim de 2012, as peças tinham registrado elevação média de 7,8% nos preços em um ano.
— Investir em selos para algumas pessoas não é correto. Se o investidor quiser renda e negociação, não é o investimento apropriado. Mas se quiser diversificar e buscar um investimento a longo prazo, ativos como moedas e selos são apropriados — afirma Keith Heddle, diretor de Investimentos da Stanley Gibbons.
A própria gestora reconhece que o colecionador pode levar cerca de três meses para concluir a venda e embolsar os ganhos. O investimento inicial também é alto: cerca de R$ 30 mil. A coleção pode até ser mantida pelo dono, mas a maioria dos clientes prefere manter sob custódia da comerciante, de olho na garantia contra roubo e falsificação. Sem uma estrutura de armazenagem brasileira, as raridades dos futuros investidores vão direto para o subterrâneo do centenário edifício da Stanley Gibbons em Londres, onde ficam os cofres dos clientes.
Ex-diretor da Sociedade Philatélica Paulista e professor de Finanças da Universidade Mackenzie, Denis Forte afirma que a filatelia pode ser considerada uma forma alternativa de investimento, mas requer cuidados.
— Trata-se de um bem de alta volatilidade, frágil, de difícil conservação, precificação e limitada liquidez. É necessário que se faça um acompanhamento de governança corporativa — recomenda.
Apesar do interesse no mercado local, artigos brasileiros ainda são raridade no acervo da empresa, que se diz disposta a expandir o portfólio. Ainda não há um único selo “Olho de boi”, impresso em 1843, durante o reinado de Dom Pedro II.
Ao contrário da monarquia britânica, as autoridades da época concluíram que era melhor deixar o imperador longe da estampa, com o argumento que os carimbos poderiam vilipendiar sua imagem. Os selos exibem apenas algarismos. Cobiçado por nove em cada dez filatelistas no país e negociado com qualidade duvidosa em sites de leilões virtuais com preços mais em conta, ele não sai por menos de US$ 5 mil em catálogo, destaca o presidente do Clube Filatélico do Brasil, Rubem Porto Júnior.

— Uma sextilha do Olho de boi chegou a ser vendida por US$ 12,5 mil. Com o mesmo valor, você pode comprar um belo pingente de diamantes — brincou Porto Junior. — Ainda há possibilidade de ganhar dinheiro nesse mercado, mas não é para iniciante.
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