Você conhece a história das primeiras moedas brasileiras? - 1ª Parte


“Graças a bem urdidas uniões dinásticas, não raro cimentadas pelo ouro dos astecas do México e a prata das minas de Potosi no Peru, em menos de um século a Espanha se tornara o império mais poderoso do mundo. Seus domínios espalhavam-se da Europa à Ásia, passando pela África e pelo Novo Mundo.

Em 1581, no mesmo ano em que os portugueses coroaram como seu rei o vizinho rei espanhol, no outro extremo da Europa, sob a liedrança da Holanda, algumas ricas possessões espanholas nos Países Baixos proclamaram-se uma república e deram início à guerra pela independência.

Ao amanhecer do dia 9 de maio de 1624, uma armada de vinte e sete navios da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais invadiu Salvador, capital da próvíncia portuguesa do Brasil. Traziam quinhentos canhões e três mil e cem homens, quase todos protestantes ou hebreus. Frente a tal poderio bélico, resistir aos que os jesuítas chamavam de hereges acabou se mostrando inútil. Liderados pelo bispo Dom Marcos Teixeira, a população local fugiu. Ficaram na cidade apenas o governador, sua família, três auxiliares e um morador de idade avançada, que se recusara a partir.

O velho recebeu os invasores à bala e acabou morto. Os holandeses colocaram o governador português e os demais funcionários sob custódia, se estabeleceram na cidade, explicaram suas intenções e convidaram o povo da Bahia a retornar às suas casas e conviver em paz com eles. Contrariando o bispo, a maioria voltou. Já uns poucos, capitaneados por um espanhol, escolheram combater os holandeses em luta de guerrilha.”

“Van Dorth” de Aydano Roriz

Pelo texto de Aydano Roriz, ao que tudo indica, não se tratava de uma invasão pura e simples, com exércitos enviados de uma nação à outra sem um escopo bem definido ou priva de significado, interessada apenas em pilhagem.
O certo é que o breve período em que os holandeses ocuparam as terras que hoje correspondem ao nordeste do Brasil, determinou um notável avanço naquela região. Não somente nas atividades comerciais marítimas, suas contribuições foram também notavelmente significativas na cultura, na ciência e na tecnologia. Esse parece ter sido também um período confuso nas tratativas políticas e sociais entre as três nações (Portugal, Espanha e Holanda), e que durou de 1624 a 1654.

Apesar da forte oposição lusitana, os holandeses não desistiam em tentar estabelecer na região, a sua própria colônia. Na verdade, foram três as oportunidades em que procuraram firmar sua presença na terra do pau-Brasil. Duas dessas tentativas se deram na Bahia, nos anos de 1624 e 1638; a outra, até certo ponto bem sucedida, teve lugar em Pernambuco, em 1630. Essas localidades foram os principais marcos definidos pelos holandeses en terras brasileiras.

Para a ocupação dessas terras, a Holanda se serviu dos interesses econômicos de uma empresa nacional que pretendia o privilégio de comercializar na América e África, à semelhança do que já fazia no Oriente. Conhecida como West-Indische Compagnie (W.I.C), originalmente em holandês denominada Geoctroyeerde West-Indische Compangnie ou simplesmente G.W.C, Companhia Privilegiada (licenciada ao comércio) das Índias Ocidentais, essa empresa de iniciativa privada intencionava ocupar uma região maior das terras luso-espanholas das Américas.

Com o privilégio de exploração por 24 anos, logo reuniram os recursos, cuja cifra se aproximou de sete milhões de guilders, dos quais 2.846.582 guilders vieram de investidores que viviam em Amsterdam.

A idéia dessa iniciativa surgiu durante as reuniões do conselho dessa Companhia, o que provavelmente fez parte de um plano maior apresentado aos Estados Gerais da União dos Países Paixos. Visto que, após a incorporação de Portugal à Coroa de Castela em 1580, os holandeses sentiram-se prejudicados e ameaçados - uma vez que cidades como Lisboa, Porto e Viena suspenderam seu comércio de produtos exóticos, madeira, tabaco e açúcar - passaram, então, a atacar os domínios da coroa espanhola, na África e no Novo Mundo, priorizando o contato direto com fontes produtoras na América.

A intenção inicial da W.I.C não priorizava a exploração das plantações de açúcar no Brazil. A Companhia das Índias Ocidentais preparou uma esquadra de 26 navios com 1400 marinheiros e 1700 soldados que, sob o comando do almirante Jacob Willekens dirige-se ao Brasil e, em 1624, invade a Bahia. No porto, encontravam-se 15 navios portugueses, dos quais 7 forão destruídos e 8  tomados pelos holandeses.

O governador Diogo Mendonça Furtado é posto sob custódia, assumindo o governo local, o Coronel Johan van Dorth, posteriormente assassinado em uma emboscada em 17 de junho de 1624.

Confiantes de que tal operação havia confirmado seu domínio no Brasil, em São Salvador na Bahia, a esquadra partiu. No fim de Julho de 1624 o almirante Jacob Willekens retorna à Holanda. Em 5 de agosto de 1624 , o vice-almirante Pieter Pieterszoon Heyn ou Piet Heyn se dirige para Angola.

De Angola Piet Heyn parte em Fevereiro de 1625 para retornar ao Brasil. Em 3 de Março de 1625 o conselho dos oficiais navais havia decidido retornar à província do Espírito Santo, com intuito de verificar a possibilidade de tomarem posse do local.

Em 13 de Março de 1625, Piet Heyn desembarca ali com 250 homens, porém, é vigorosamente repelido pela população local e pelas tropas de Salvador Corrêa de Sá no comando de 250 homens brancos e índios em quatro canoas e uma caravela que seu pai Martim de Sá, governador do Rio de janeiro, mandara em seu auxílio.

Derrotado, um imediato do almirante Jacob Willekens, que atacara a Bahia, foi enviado para o Caribe para atacar vários pontos da costa americana, mais precisamente o México (Nova Hispania). Em 1628 Piet Heyn estava liderando uma frota de 20 grandes navios e 11 yachts. Em Setembro, sua frota havia tomado cerca de 15 navios mercantes espanhóis em Matanzas Bay, apossando-se  da prata que ia do México para Espanha, num montante em torno de 13 a 14 milhões de guilders, dos quais cerca de 7 milhões de guilders em prata.

Esse montante foi fundamental para preparar a expedição que objetivava o retorno ao Brasil com a conquista de Pernambuco. Ainda, na Bahia, organiza-se uma resistência que poria fim ao domínio holandês na região, pelo período de aproximadamente 1 ano.

Outras tentativas como a de Pieter Pieterszoon Heyen de 1627 que saqueou o Recôncavo baiano se seguiram, o que estimulou a W.I.C. em promover novos ataques contra os portugueses. Porém a companhia encontrava-se sem fundos, e dessa forma não se arriscaria a outra grande expedição, com tropas de desembarque se não houvesse um reforço financeiro, o que só ocorreu graças a uma vitória naval, promovida pela frota de Piet Heyn, contra D. Juan Benevides, o que rendeu aos holandeses um montante de aproximadamente nove milhões de ducados.

As riquezas naturais da Capitania de Pernambuco (Zuikerland - Terra do açúcar) no início do séc. XVII já eram bastante conhecidas pelas grandes potências da época. Os Países Baixos necessitavam do açúcar que era produzido no Brasil, cuja produção de 121 engenhos, somente   em Pernambuco, despertou o interesse dos diretores da Companhia que, com o apoio da Inglaterra e França, rancorosos inimigos da Espanha mandaram armar uma extraordinária esquadra de 67 navios e 7.280 homens dos quais 2.325 eram soldados e 2515 marinheiros, sob comando do almirante Hendrick Corneliszoon Lonck.

Em 15 de fevereiro de 1630, inicia-se a operação comandada pelo almirante Lonck.



Sob seu comando estão o também almirante Pieter Adriaensz. Ita, o vice-almirante Joost banckert; comandando as tropas, o coronel Diederick van Waerdenburch que apresentam-se nas costas de Pernambuco. Assim se apresentavam as tropas holandesas nas costas de pernambuco, com o claro objetivo de atacar Olinda (a mais importante cidade da região, naquela época). A esquadra de 16 navios, sob o comando de Waerdenburch, desembarca em Pau Amarelo, com um enorme contingente de soldados e mais 300 marinheiros de apoio. Olinda é conquistada sem opor resistência. 

Os pernambucanos se organizam e remetem sucessivos ataques de guerrilhas aos invasores, impedindo-os de prosseguir com sua dominação ao interior.

Nesse meio tempo, os holandeses conseguem construir um forte na extremidade da ilha de Itamaracá e o guarnecem com 360 homens sob o comando do capitão polonês conhecido como Arciszewski (1592-1656). 

Em Abril de 1631, inicia-se uma operação sob o comando do almirante Adriaen Jansz. Pater à frente de uma frota com 15 navios, 3 big sloops, 7 barcos e 1260 soldados comandados pelo tenente-coronel Hartman Godefrid van Steyn Callenfels. Supondo que as forças portuguesas que haviam derrotado uma esquadra-reforço enviada pela Companhia fossem muito numerosas, incendeiam Olinda e pensam em abandonar Pernambuco. 

Em 1632, porém, com auxílio do mameluco Domingos Fernandes Calabar, rompem o cerco formado pelos portugueses e, em sucessivas vitórias, ampliam o domínio holandês em solo brasileiro. Finalmente, em 1633 a ilha de Itamaracá é conquistada por Sigismund von Schkopp.


Em janeiro de 1637, o governo holandês julga estabelecido seu domínio e escolhe um local onde fundam Recife como sede de seus domínios no Brasil. O motivo devia-se ao fato de que nessa localidade, gozavam da segurança de que não dispunham em Olinda.
A Recife holandesa possuía rios e canais muito similares aos que os holandeses estavam acostumados em sua pátria e Olinda situa-se em região montanhosa, muito semelhante as cidades portuguesas. Estabelecidos no território, o Conselho da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais decide, então, enviar ao Brasil um príncipe da família reinante, o conde João Maurício de Nassau-Siegen, para ocupar a função de governador-geral do Brasil Holandês.

O NORDESTE NASSOVIANO
Quando Maurício de Nassau* aportou em Pernambuco, em 23 de janeiro de 1637, trazia em sua comitiva, não um exército a escopo de conquistar terras ou escravizar a população, mas sim uma missão artística e científica. Ao chegar ao Brasil, procurou imediatamente estabelecer a segurança da colônia holandesa, e somente a este fim reuniu um exército capaz de conter o avanço das tropas luso-brasileiras.

Estabelecendo os limites das terras ocupadas pelos holandeses, o conde de Nassau-Siegen estava pronto para se dedicar à tarefa de restabelecimento econômico da colônia, restaurando a indústria açucareira que, com o abandono dos engenhos pelos antigos proprietários luso-brasileiros, e dos estragos causados pelas seguidas guerras, encontrava-se em precárias condições.

Assume o trono o nobre João de Bragança, que se transforma em D. João IV, procurando desde cedo, retomar as relações de amizade com todas as potências inimigas da monarquia espanhola.


Em 12 de junho de 1641, Portugal celebra com a Holanda um “Tratado de Aliança Defensiva e Ofensiva”. Porém, o Tratado não tem efeito nas colônias portuguesas em poder dos holandeses, no Brasil, que só recebem a notícia somente em 3 de Julho de 1642.

Diante dessas circunstâncias, aproveitando-se do momento, o conde Maurício de Nassau-Siegen amplia os domínios de seu governo ocupando Sergipe, Ceará e Maranhão. Pouco tempo depois, em 28 de fevereiro de 1644, os holandeses são expulsos do Maranhão e passam a concentrar suas atenções em Pernambuco.

Durante a administração do conde Maurício de Nassau-Siegen, o progresso vigorou de forma impressionante. As fronteiras foram finalmente estabelecidas do Maranhão à foz do Rio São Francisco. A cidade do Recife passou por inúmeros melhoramentos urbanísticos, como a instalação de duas pontes de grandes dimensões - a primeira ligando Recife à ilha Antônio Vaz e a outra da ilha Antônio Vaz ao continente. Supostamente essas foram as primeiras pontes construídas no Brasil.

Nesse período, Nassau construiu o palácio de Friburgo e a Casa da Boa Vista - um Horto Zoobotânico. Instalou o primeiro Observatório Astronômico das Américas e diversas outras obras de infra-estrutura, como nunca havia se visto na região.

Em 22 de maio de 1644, o conde Maurício de Nassau se vê obrigado a retornar à Europa, após sete anos de governo, por pressão da Companhia das Índias Ocidentais, que desejava imprimir à colônia rumos diferentes das nobres intenções de Nassau, um mecenas e desejava formar do Brasil holandês, uma nação próspera e forte, governando com justiça e sabedoria.

Procurou expandir o comércio, as artes, a indústria e as profissões liberais e incentivou a lavoura e a pecuária. 
Porém, seu programa de governo, ocasionaria despesas e reduziria os recursos imediatos da Companhia e, por isso, perdeu seu prestígio. 

Na verdade, a finalidade da Companhia era retirar o máximo proveito financeiro da colônia, pouco importando o progresso ou o futuro da mesma, arrancando-lhe tudo o que podia. Após a retirada de Nassau, a W.I.C. passou a extorquir os moradores locais e portugueses. Os colonos, então, procurando salvar suas economias, enterram o que possuíam no interior das florestas, o que provocou, cada vez mais, a falta de dinheiro em circulação. Para minimizar essa situação caótica, a Companhia enviou para Pernambuco 27.000 florins em moedas de um soldo, dois soldos e xelins; porém, a situação tornara-se irreversível.
Em 13 de junho de 1645, tem início a Insurreição Pernambucana e, com ela, cresceu o problema da crise monetária. O momento era de entressafra do açúcar e não havia dinheiro suficiente sequer para pagar as tropas, que eram compostas de mercenários de todas as nacionalidades, expostas aos ataques das tropas luso-brasileiras. Nesse meio tempo foi declarada a guerra entre Holanda e a Inglaterra (1652-1654). Esse fato favoreceu a Insurreição Pernambucana, visto que a Holanda ficava impossibilitada de socorrer sua colônia no Brasil. 

Os navios da Companhia da Índias Ocidentais também transportavam ouro proveniente da África, mais precisamente da Guiné. Tratando-se de mercadoria valiosa, todas as precauções eram tomadas para se evitar ataques de pirataria ou naufrágios em alto mar.

Os navios da Companhia da Índias Ocidentais também transportavam ouro proveniente da África, mais precisamente da Guiné. Tratando-se de mercadoria valiosa, todas as precauções eram tomadas para se evitar ataques de pirataria ou naufrágios em alto mar.

Os navios, que vinham da costa africana, faziam escala em Recife, onde coletavam correspondências, abasteciam e carregavam o navio de açúcar e pau-brasil e, quando conveniente, depositavam, com segurança, caixas de ouro em pepitas ou em barras, até o momento em que, partindo um comboio de navios para a Europa, pudessem ser transportadas com segurança para os cofres da Companhia, na Holanda.


* Johann Mauritius Van Nassau-Siegen era um homem dotado de qualidades excepcionais. Um nobre cavalheiro de origem alemã que teve formação humanista da melhor qualidade.
Competente como soldado, também conhecia a fundo a arquitetura, a história e as artes plásticas. Cuidou bem da cidade, dotando-a de palácios e fortificações. Sua corte era abrilhantada pela presença e pela obra de homens ilustres como o médico Willem Pies (1611-1678), o botânico Jorge Marcgrave (1610-1644), os pintores Franz Post (1612-ca.1680), Albert van der Eckhout (1637-1664) e Zacahrias Wagener (1617-1668) e pelo biógrafo de Nassau, Gaspar Barléus (1584-1648) autor de Rerum per Octennium in Brasilia (História dos feitos praticados durante oito anos no Brasil), considerada a mais monumental obra sobre o Brasil colonial. Nassau era amante de festas e admirador das belezas tropicais.
A Companhia das Índias Ocidentais era uma empresa de comércio semi-estatal. Nassau, contratado pela companhia, desembarcou no Recife, em 1637, na condição de governador, capitão e almirante-geral do Brasil holandês. 
Sua atuação no Brasil, em contraposição à colonização lusitana, católica, estatal e burocrática, foi uma administração sensata, racional e privatista, pontuada pela ética protestante e pelo espírito do capitalismo.

Fonte: MBA Editora
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