HISTÓRIA DA MOEDA - 05 O VALOR DE TROCA DO CACAU NA SOCIEDADE MAIA

O cacau circulava desde armazéns especiais, chamados “casas do cacau”, até os templos e quartéis militares, que representavam a grandeza imperial do México-Tenochtitlã e suas cidades aliadas e onde, segundo os cronistas, os soldados astecas consumiam grandes quantidades de chocolate.
Entre os maias, à diferença da sociedade asteca, a elite política coincidia em geral com a elite comercial, e o cacau entrava na vida social graças ao comércio, e não como tributo.
Em Iucatã o intercâmbio de cacau coexistia com uma produção equivalente de mantas, o que punha em relação de valor todas as mercadorias, inclusive certas terras, cuja produção era enviada ao mercado. Da necessidade de utilizar a mão-de-obra das comunidades camponesas nasceu a escravidão produtiva: os homens eram comprados e vendidos por cacau. Segundo Diego de Landa, o cronista dos maias de Iucatã, “o ofício a que mais estavam inclinados (era) o de mercadores, levando sal, roupas e escravos para as terras de Ulua e Tabasco, trocando-os todos por cacau e contas de pedras mais finas e melhores…”
O aumento da produção de cacau, graças aos escravos maias de Iucatã e também astecas, favoreceu provavelmente a circulação de cacau entre as classes baixas, sempre sob o controle da nobreza. Diversas crônicas coloniais e etnográficas assinalam que o cacau era usado como oferenda e doação nos ritos de passagem, como casamentos e funerais.
Que papel cabia ao cacau na acumulação de riqueza? Os grãos de cacau tinham que ser consumidos no prazo de um ano ou um pouco mais. Mas as diferentes estruturas sociais dos astecas e dos maias determinavam também comportamentos diferentes a esse respeito. Assim, no vale do México, os comerciantes tinham que se mostrar muito discretos para não ofender o imperador com suas riquezas. Por isso, segundo Frei Bernardino de Sahagún, vestiam-se humildemente, inclusive com mantos rasgados. A cobiça da nobreza obrigava os comerciantes pochtecas a consumir seu cacau em grandes quantidades, a ofertá-lo nos templos ou entregá-lo como donativo.
No México, o cacau estava ligado ao prestígio e simbolizava uma posição social. Entre os itzas de Iucatã a riqueza do cacau, da qual faziam alarde os grandes senhores com seus numerosos escravos e seus palácios decorados com grande refinamento, servia também para estimular a produção, já que ele podia ser aplicado em cultivos comerciais e na aquisição de mão-de-obra. Provavelmente por essa razão, os espanhóis conservaram o uso monetário do cacau em Iucatã e substituíram a manta pelo real, a moeda espanhola, como medida de valor, sempre em relação com as flutuações da produção de cacau.
No entanto, ainda em pleno século XIX, o cacau seria utilizado para pagar salários em Iucatã e outras regiões da América Central, como se lê no testemunho do viajante norte-americano J.L. Stephens, em 1842: “Notei (…) que os grãos de cacau circulavam entre os índios como moeda. Em Iucatã não há moeda de cobre nem moeda menor que a de meio real (…) Como os salários dos índios são baixos e os artigos que compram são realmente necessários para a vida… esses grãos de cacau ou partes de um meio real são a moeda mais comum entre eles.”
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