Um leitor e colecionador de cédulas Argentinas me pediu para
fazer um estudo sobre as cédulas bônus e provinciais “moedas paralelas” , juntei alguns cacos de
informação encontrados aqui e ali! Espero ajudar com as informações do post.
As “moedas paralelas” são personagens antigas no cenário argentino.
Nos anos 80, Carlos Menem, na época governador da província de La Rioja,
emitiu bônus com a efígie do cruel caudilho Facundo Quiroga, a quem
admirava.
No entanto, este tipo de emissões monetárias provinciais somente
adquiriram proporções fora do costumeiro quando, a meados de 2001 – no
meio da falência generalizada – mais da metade das províncias começaram a
imprimir suas próprias moedas. Geralmente, não contavam com respaldo
financeiro algum.
Na época, além dos pesos oficiais, até o governo federal teve que
emitir uma moeda paralela própria, o denominado “Lecop”, com o qual
pagava os funcionários públicos federais, os fornecedores do Estado,
além de realizar envios de fundos às províncias.
Rápidamente, as “moedas paralelas” tornaram-se em mais de um terço do
total de circulante monetário na Argentina. Várias delas eram aceitas
em todo o território argentino, principalmente o “patacón” (da província
de Buenos Aires) e o “lecor” (de Córdoba).
O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi um feroz crítico das
“pseudo-moedas”, alegando que as províncias estavam esquivando a
realização dos ajustes fiscais que o organismo financeiro exigia. No
final de 2001, quando colapsava o governo do então presidente Fernando
De la Rúa (1999-2001) elas constituíam 15,8% do circulante monetário na
Argentina. Ao longo do ano 2002, apesar das pressões do FMI, estas
emissões continuaram se espalhando. A meados desse ano, representavam
38% do circulante. Em 2003, elas equivaliam 31% do total.
Muitas delas, emitidas por governos sem credibilidade, valiam até 50%
menos do que sua denominação numérica. Os “patacones”, graças ao peso
que a província de Buenos Aires possuía na economia nacional,
conseguiram manter uma paridade de um a um com o peso (e durante um
tempo, até superou a moeda nacional).
As emissões dos bonaerenses “Patacones” chegaram a um valor equivalente a US$ 900 milhões.
Córdoba emitiu os “Lecor” em dezembro de 2001. A moeda circulou até
2003, quando foi resgatada pelo governo provincial. Ao longo de dois
anos, circularam Lecors com valor equivalente a US$ 300 milhões.
No entanto, os “Cecacor”, da empobrecida província de Corrientes, não
chegavam à metade de seu valor numérico. Um funcionário público
provincial que ganhasse 1.000 “cecacors” mensais, na verdade tinha nas
mãos nada mais do que pouco mais de 450 pesos. Na pior fase da crise, os
cecacors somente valiam na prática ao redor de 33% de seu valor
numérico.
Moeda paralela emitida pelo próprio Estado argentino.
A própria União, falida, teve que emitir os Lecops. O total desta moeda paralela equivaleu a US$ 1,06 bilhão.
Em 2003, o governo do então presidente Eduardo Duhalde implementou o
Programa de Unificação Monetária, que realizou o resgate das
pseudo-moedas. Desta forma, o peso voltou a ser a única moeda em
circulação no país.
Um exemplar de Cecacor, a moeda
paralela da província (arruinadíssima) de Corrientes. Esta era uma das
menos valorizadas moedas paralelas argentinas.
PARADOXOS – As
“moedas paralelas” ou “pseudo-moedas” eram desprezadas ou olhadas como
párias ou bastardas. Mas, uma destas moedas, os bônus “Patacones”,
tornou-se logo após o corralito e o corralón na nova diva do circulante
monetário argentino.
O motivo para esta mudança de status quo foi o congelamento dos
depósitos bancários, que deixou fora do páreo cotidiano uma ampla
circulação de pesos e dólares, as moedas fortes do país.
O fato é que na categoria de “pseudo-moedas”, os bônus não entraram
dentro do confisco, já que somente podiam ser “custodiados”, e não
“depositados” nos bancos. O resultado foi que na província de Buenos
Aires a cotação do Patacón subiu para 1,10 peso. E diversos comércios
anunciavam descontos para quem pagasse em patacones.
Estes bônus circularam com maior liberdade que os movimentos
realizados através de cartões de crédito, cheques ou cartões eletrônicos
de débito. Sua vantagem era que os patacones estavam isentos de
impostos, algo que não ocorria com os cheques.
No entanto, os patacones estiveram sempre à beira do precipício. A
segunda emissão de notas – a seria B – tinha qualidade menor de papel e
de tinta, fato que desagradava os argentinos, já que parecia “menos
dinheiro” do que já era. Uma terceira emissão de patacones esteve a
ponto de ser lançada em meados de 2002. O governo bonaerense havia
anunciado que, por falta de dinheiro, somente poderia imprimir um lado
da nota. Mas, perante a reação negativa que gerou, o projeto foi
arquivado.